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O VAZIO ENTRE PLANTIO E COLHEITA
Por Ana Maria Tahan no Jornal do Brasil
O Ministério das Relações Institucionais, comandado pelo gaúcho Tarso Genro, é uma usina de idéias e propostas criativas. E irreais. Jorram como água, vertidas pela garganta do presidente-candidato Lula e alcançam ouvidos ávidos por notícias, mas sem malícia para distinguir entre o líquido potável e o poluído pela política.
Nos últimos 45 dias saíram dali três pérolas da irresponsabilidade. Provocaram tempestades de areia sobre o deserto de uma campanha incolor e inodora. Conseguiram, contudo, espaços na mídia e críticas de quem entende do riscado. A primeira o comandante atrás de um segundo mandato no Palácio do Planalto encampou. Foi a da criação de uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva para fechar a reforma política sempre adiada.
O palco e a platéia para espalhar o tema aos quatro ventos foram selecionados com maestria pelos alquimistas do ministério de Tarso. Dirigentes da Ordem dos Advogados do Brasil, por ingenuidade ou esperteza, serviram bem ao propósito palaciano. Deslocaram-se a Brasília para entregar ao presidente-candidato uma série de propostas para conter os ânimos de parlamentares que se excediam nos espetáculos das CPIs. Surpreendidos, ouviram o presidente defender a instalação da Assembléia Nacional. Diplomaticamente não concordaram nem discordaram. Alguns até acharam a tese interessante. Espalhada aos quatro ventos, foi reprovada. E bem morreu.
Depois, o inventivo Tarso Genro apadrinhou outra imaginosa teoria: a do governo de coalizão nacional. Se reeleito, apregoou, o presidente Lula aproximará governistas e oposicionistas que, pelo bem do país, aposentarão as divergências para tornar a reforma política uma realidade, mudar o orçamento para exorcizar os sanguessugas e, a partir daí, montar um projeto de desenvolvimento nacional.
Nada mais antigo, recorrente e inepto. José Sarney herdou um pacto parcial articulado por Tancredo Neves. Fernando Collor tentou e falhou. Itamar Franco quase conseguiu. Fernando Henrique pensou no seu. Nenhum se concretizou integralmente. Trombaram na feroz negativa do PT. Isso mesmo, do PT que agora quer que todos encampem o seu. Pacto, como ensinaram os espanhóis com o de Moncloa, só se propõe em tempos de crise profunda. Não é o caso do Brasil de hoje. Ou é?
A terceira cortina de fumaça anda se espalhando devagar. Também é originária do ministério de Tarso. Avisa que, reeleito, Lula apadrinhará o batismo de um novo partido, com governistas incrustrados no PSDB e PFL e mais os parlamentares eleitos por legendas que trombaram na cláusula de barreira. Ressuscitariam como uma federação. É uma sugestão bastarda. A legislação atual, tanto a Constituição quanto a eleitoral, não prevê nada parecido como uma federação de partidos. A proposta está encoberta de poeira numa gaveta qualquer da Mesa da Câmara. Foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa, inserida num projeto do deputado Ronaldo Caiado. Para se tornar realidade, terá de passar pela votação dos deputados e senadores e a sanção presidencial. Nada mais distante da realidade.
Um dos mais hábeis e discretos articuladores da vida parlamentar brasileira, o pernambucano Thales Ramalho deixou registrado em 40 cadernos manuscritos os bastidores de duas décadas da história política do país. Além disso, era um sábio. Cunhou a frase: "Flores do recesso não desabrocham". Em meses de Congresso deserto, sob a desculpa da campanha, as idéias de Tarso Genro, graças às urnas eletrônicas, também não germinam.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/02/2006 03:55:00 AM      |