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FALANDO ALTO
Por Lula Vieira - publicitário

Houve um tempo que as multinacionais achavam que não se pode casar com colegas de escritório. Uma trepadinha aqui, outra ali, era até incentivada. Mas casar, de papel passado ou pelo menos oficiosamente, não era permitido. Os erreagás da vida que me expliquem, mas esta é uma daquelas coisas que jamais entendi. Como controlar xerox, por exemplo. São tradições próprias de uma sociedade constituída sobre ícones como a nossa. Puta frase intelectual, não? Bem, voltando ao assunto, algumas empresas americanas tornaram-se célebres pelas surubas que promoviam nas festas de fim de ano. Como, cavalheiro, sua mulher trabalhou numa multinacional e jamais participou de uma suruba? Desculpe. Nem todas as multinacionais, nem todas as mulheres, nem todas as festas eram iguais. Serenados os ânimos, prossigo.
Não era legal ter casos permanentes com colegas de escritório, embora nas sábias palavras de José Roberto Orsi "aqui todo mundo come todo mundo, mas é tudo gente séria". Foi por esse motivo que a minha redatora e o diretor de grupo de atendimento, quando se apaixonaram um pelo outro, esconderam seu affair da melhor forma possível. Apesar de que ambos eram solteiros, jovens, bonitos e sadios, ficaram com medo de que o gerente de pessoal um dia viesse com aquele papo de que um dos dois teria que rodar, em nome das chamadas "polices" que é uma forma metida a besta de chamar idiossincrasias empresariais.
Como eu dizia, minha redatora e o diretor de atendimento estavam apaixonados, morando juntos, felizes e escondidos. Uma operação complicadíssima, com direito a cada um sair num horário diferente de casa, em carros separados, se cumprimentarem ao chegar na agência e outras manobras diversionistas. Que não adiantava nada. Mas evitava o tratamento oficial. Ridículo hoje, mas vocês moços, pobres moços, não sabem o que eu já passei. Até que um dia, estávamos numa reunião com o cliente, as Ceras Jonhson, discutindo o lançamento do Protector Elétrico, um aparelhinho que permite dormir de janelas abertas sem medo dos mosquitos.
Estava nosso diretor de atendimento apresentando o planejamento e num determinado momento ressaltou que esta expressão "dormir de janelas abertas" deveria ser entendida apenas como uma alegoria publicitária, já que no calor do Rio de Janeiro só maluco não gosta de ar condicionado. Vai daí que a redatora, imersa em outros pensamentos, reclama em voz alta:
"- Porra, Fernando, lá vem você de novo com essa merda de que não pode dormir sem ar condicionado e depois eu é que morro de frio!". A frase foi assim, completa, sem possibilidade de interpretações.
E valeu como uma declaração de amor, um desafio e uma celebração ao sentimento.
Estão casados até hoje. Felizes. E no ar condicionado.


Editado por Adriana   às   9/01/2006 11:33:00 PM      |