Por José Inácio Werneck em Direto da Redação Apesar das entrevistas ambíguas de Condoleezza Rice, Secretária de Estado da administração George W. Bush, o debate sobre a nuclearização do Irã vai se encaminhando para duas pretensas soluções: uma invasão dos Estados Unidos, como já aconteceu ao Iraque, ou um ataque de precisão dos americanos às instalações onde os aiatolás estão presumivelmente procurando fabricar a bomba atômica. A primeira hipótese é remota, mas possível, pois o governo George W. Bush parece incapaz de aprender com a experiência ou entender a opinião pública mundial (a respeito, interessaria aos leitores tomar conhecimento de que agora até os Tories, os conservadores britânicos, acham que o Primeiro Ministro de seu país, Tony Blair, político em queda livre, presta-se demais ao papel de “poodle” de George Bush). Quem pensou um dia ver os homens da direita britânica acusarem um Primeiro Ministro trabalhista de ser mais direitista do que eles?
A administração George W. Bush é tão refratária às lições da experiência que o Vice-Presidente Dick Cheney declarou no último domingo que se eles soubessem, no dia 12 de setembro de 2001, tudo o que sabem agora, “teríamos invadido o Iraque outra vez”. Mas a hipótese de invadir o Irã é remota porque até mesmo à mais poderosa nação do mundo falece o poder econômico e militar para ocupar um país maior e mais forte do que o Iraque ao mesmo tempo em que continua com mãos e pés atados em Bagdá. Resta então a possibilidade, que deixa os neo-conservadores assanhadíssimos, de lançar ataques “de precisão”, com aviões e mísseis, contra as instalações nucleares iranianas, espalhadas, ao que se sabe, por três ou quatro lugares diferentes. Os americanos teriam sucesso? Se refletirmos no que aconteceu ultimamente a Israel na luta contra o Hezbollah, no Líbano, concluímos que as chances não parecem promissoras. A conseqüência mais provável seria provocar uma imensa onda nacionalista no Irã, fortalecendo ainda mais o poder dos aiatolás. Em 1953 os americanos resolveram depor o Primeiro Ministro nacionalista Mohammed Mossadegh, democraticamente eleito, recolocando o Xá no poder, e até hoje pagam o preço. A onda nacionalista não se restringiria ao Irã. Atingiria todo o mundo islâmico, contribuindo para arrefecer discórdias entre xiitas e sunitas. Perante o resto da opinião pública mundial, a posição americana sofre do grave pecado de dois pesos e duas medidas, por fazer vista grossa ao arsenal nuclear de Israel e Índia, que nunca assinaram o Tratado de Não-Proliferação. Tal tratado foi criado com dois objetivos: os países não nuclearizados se absteriam de procurar a bomba atômica e os países nucleares progressivamente entrariam numa fase de desarmamento. Mas se o segundo objetivo foi esquecido, quem tem moral para exigir o primeiro? A administração George W. Bush tem perdido grandes oportunidades de mostrar sinais de vida inteligente. Assim foi com o Iraque e assim parece que será com o Irã.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/16/2006 03:33:00 AM |
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