Por Onofre Ribeiro Sobre o artigo de ontem “De que vale o discurso na eleição?”, recebi algumas contribuições muito interessantes. Por isso, volto ao assunto para fazer alguns registros. Na reeleição de Fernando Henrique Cardoso à presidência da República, em 1998, as pesquisas qualitativas apontavam que os eleitores estavam com medo de candidatos “tocadores de obras”, porque nesse tipo de governo a corrupção costumava andar de mãos dadas. Exemplos não faltavam no país e em Mato Grosso. Aqui no estado já houve uma época em que construtoras nacionais tiraram seus executivos para não se contaminarem com os absurdos, quando as comissões cobradas pelas obras públicas estaduais chegaram a 35%. No Brasil, na época dos militares apareceram as grandes construtoras que tocavam as grandes obras rodoviárias, hidrelétricas, construções civis, portuárias, etc. As comissões surgiram ali como cultura de relacionamento entre o poder público federal, estaduais e municipais. Tornou-se natural cobrar 10% sobre o valor da obra como comissão para as “caixinhas eleitorais”. A partir da redemocratização, as caixinhas evoluíram muito e tornaram-se parte do custo político de qualquer obra. Se um quilômetro de asfalto valesse 100, custaria pelos menos 500, porque os custos políticos recaíam em cascata desde o vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador, governador, ministro, segundo escalão da administração federal, passando pelas casquinhas dos medidores da obra no campo até chegar no office-boy que carregava o processo para o pagamento da obra.
Porém, depois de FHC, nada mudou. Até porque, na ausência de obras de vulto, mas havendo orçamento que não se gastou por incompetência da gestão federal no governo Lula. O dinheiro continuou saindo por canais primários (ministérios e estatais) secundários (burocratas, agências de publicidade, fundos de pensão e parlamentares) e terciários (por parlamentares em emendas ao orçamento, pelos cartões de crédito oficiais, por obras fantasmas e superfaturadas, como os recentes recapeamentos de rodovias). Desse modo, o discurso eleitoral está profundamente contaminado pelo medo do eleitor de continuar sendo roubado pelo poder público em todos os níveis. Em Mato Grosso, felizmente, não temos mais escândalos nas obras realizadas. Mas, o eleitor não quer apenas mais obras. Ele quer realizações do poder público que interfiram na sua qualidade de vida. E mais: quer que lhe expliquem isso direitinho! Essa dura tarefa de “reeducar” o eleitor para o “Bem” que o poder público pode lhe destinar, será a essência do discurso eleitoral a partir de 2006. Esconder-se atrás de denúncias eleitorais, de críticas e mais críticas, sem propostas no tom citado, será nadar para morrer na praia. E o eleitor não vai jogar bóia para salvar nenhum náufrago desavisado de que os tempos estão mudando. Desta vez, parece que, definitivamente!
Editado por Giulio Sanmartini às 8/10/2006 01:25:00 AM |
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