Editorial em O Globo Sabe-se que a China é o país que mais prende jornalistas no mundo. Sabe-se que Cuba vem em segundo. Sabe-se que 30 mil censores trabalham para monitorar a internet na China. Sabe-se que o governo cubano vai iniciar uma ofensiva contra antenas parabólicas, ilegais no país. Nada se sabe sobre a Coréia do Norte. É vexatória a situação da liberdade de informação nesses três bastiões do comunismo. Aliás, falar-se em liberdade em relação ao regime norte-coreano — um enclave stalinista degenerado na Ásia — chega a ser cômico. Em se tratando de Cuba e China, é trágico. Há um fato histórico em curso em Cuba. Um reinado comunista de 47 anos está chegando ao fim. E o governo cubano não quer que o mundo saiba! Qual seria a outra explicação para o fato de a doença de Fidel Castro ter sido alçada a “segredo de Estado”? Ou de as autoridades da ilha estarem mandando de volta do aeroporto jornalistas estrangeiros? Ou de o enviado especial do GLOBO ser obrigado a entrar no país como turista e não poder se identificar?
Se Cuba se esforça para evitar o fim da ditadura comunista, a China tenta adaptá-la aos novos tempos. E tem sido muito bem-sucedida, a despeito da esquisitice de um governo de partido único gerenciar uma economia capitalista — o chamado “socialismo de mercado”. A economia chinesa cresce cerca de 10% ao ano e já oferece tudo o que o dinheiro pode comprar. Mas, entre as que não pode, e ela não tem, está a liberdade de imprensa. Pois a China se prepara a todo o vapor para um dos eventos mais eletrizantes do planeta: os Jogos Olímpicos, que serão em Pequim em 2008. Cerca de 20 mil jornalistas são esperados para a cobertura. Mas, malgrado a abertura econômica, o governo chinês não consegue conviver com a idéia de que o que acontece no país interessa ao resto do mundo. Segundo o Clube dos Correspondentes Estrangeiros da China, desde 2004, quando a tocha olímpica foi entregue a Pequim, a entidade recebeu 72 notificações envolvendo jornalistas de 15 países. Em 38 delas, jornalistas foram presos quando cobriam assuntos cuja divulgação não era desejada pelo governo chinês. O pavor à liberdade de expressão está no DNA de regimes autoritários.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/10/2006 01:17:00 AM |
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