Por Ana Maria Tahan no Jornal do Brasil Atenção, eleitor! Político à caça de votos faz qualquer coisa não apenas para empurrar a sujeira para debaixo do tapete mas para disfarçar o volume, pisando em cima. Quem duvida, basta ler, ou rever, a cena do presidente Lula fingindo que o ex-presidente da Câmara, ex-amigo do peito, ex-companheiro para rir e chorar, João Paulo Cunha, não estava ali, a cinco metros de distância, quietinho, no fundo do palanque. Distante, contudo, o suficiente para evitar fotos em que os dois apareçam juntos. Pior, foi a saída caseira e simplória para explicar por que não atendia os reclamos dos militantes arregimentados pelo PT de Osasco para anunciar, alto e bom som, a presença do deputado. João Paulo Cunha trombou nas mesadas fartamente distribuídas por Marcos Valério, com o beneplácito do ex-todo-poderoso tesoureiro petista Delúbio Soares. Escapou da cassação na Câmara e, pelo andar da carruagem, deve voltar a pisar o tapete verde na legislatura que se inicia em fevereiro do próximo ano. Para recordar, é importante ressaltar que o presidente Lula sempre jurou, de pé juntos e mãos erguidas para o céu, que nada sabia, ou soube, de distribuição de recursos não declarados para campanha ou em troca de votos no Congresso.
Apesar dos juramentos - um presidente que não sabe o que se passa a meio metro do gabinete, no mínimo, é relapso - para quem tenta uma segunda rodada no Planalto, como Lula, não é nada recomendável o flagrante ao lado de quem um dia se enrolou em confusões de dinheiros que entram e saem sem explicação ou destino claros. Como o professor Luizinho, outro inocentado pelos colegas, que andou circulando no entorno da agenda oficial do candidato a manter a faixa presidencial, no fim de semana paulista. Mais uma vez, os subterfúgios da direção do PT deram certo, e o ex-líder do partido nem foi citado por Lula. Se não interessa à legenda que um dia defendeu a ética e a transparência política a imagem do seu principal líder com alguns liderados, como o partido reservou legenda para mensaleiros, sanguessugas e congêneres? Como o presidente da sigla, deputado Ricardo Berzoini, assegura a inocência dos acusados e depois participa da manobra para escondê-los em fundos de palanques Brasil afora? Não sabia ele, e os demais chefões petistas, que ao liberar o uso do 13 por envolvidos em mamatas mal-explicadas estariam cometendo suicídio eleitoral? Alguns alegam que o partido está pagando a dívida do passado com quem ajudou a legenda a escalar o poder. Daí abençoar a campanha dos joão paulo, luizinho e paulo rocha. Também sabem que o número de representantes da legenda no Congresso emagrecerá significativamente a partir do ano que vem. E estão preocupados com a composição da maioria parlamentar no segundo mandato de Lula. Se reeleito, como governará o presidente? Ficará refém do PMDB de Renan Calheiros e José Sarney. Do PL e do PTB de enrolados em mesadas e com máfia de ambulâncias, de políticos-evangélicos. Quase duas centenas de representantes que nada têm, ou terão a ver, algum dia, com qualquer tese ou ideologia defendida pelo PT no passado. O fisiologismo embutido nessa composição partidária preocupa quem ainda mantém compromissos com a história do partido e o futuro do país. O PMDB, é mais que sabido, quer abocanhar vários ministérios, com porteira fechada. Tradução: controle absoluto de orçamento e cargos. As demais siglas seguem a tradição da disputa menor por postos com algum título e uma verba que não precisa ser tão generosa assim. E assim caminhará o Brasil até 2010.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/22/2006 01:24:00 AM |
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