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PROJETO DE FUTURO
Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
Semanas atrás, o presidente Lula acertou no conteúdo, mas errou na forma quando pediu a realização de uma constituinte para fazer a reforma política. Ficou a clara impressão de que procurava se desvencilhar de um problema que, em grande parte, foi criado pelo seu governo: a desmoralização do Congresso, devastado por mensalistas e sanguessugas. Mesmo entre seus ex-ministros, há quem não tenha dado uma explicação mais convincente sobre alguns dos envolvimentos que teve com estas turmas. Lula, até com propriedade, disse que não acreditava numa reforma política feita por gente que tinha interesse direto nela.
Não deixa de ser verdade, mas o presidente deveria tê-la lembrado alguns anos antes de seu mandato. Até porque dormem sono solto nas gavetas da Câmara propostas que poderiam, se aprovadas, limpar expressivamente o processo eleitoral. Poucos sabem, mas há um projeto que sugere a suspensão dos direitos políticos do parlamentar que renunciar ao mandato para não ser cassado e ficar afastado um certo tempo da vida pública. É o típico expediente usado pelos desonestos que se aproveitam de uma brecha na legislação, que só poderia ser utilizada em casos gravíssimos, como, por exemplo, questões de saúde.
Uma reforma política pressupõe nobreza, coisa que, pela reação do deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE), o governo não tem tido. Quando ele reagiu afirmando que seu partido tinha de parar de jogar para a torcida e reconhecer que muitas das coisas que estavam vindo à tona não eram invenção da oposição, só faltou ser admoestado publicamente da mesma forma que o senador Sibá Machado (AC) foi quando pretendeu que a legenda admitisse a dívida com o publicitário Marcos Valério de Souza. No jogo pesado do Congresso, permanecerá refém dos grupos que se servem do Estado e negociam votos por cargos e benesses. Até porque, o Palácio do Planalto tem péssimo trânsito na oposição, o que dificulta a convergência de interesses que contemple a sociedade.
Por ter a certeza da afirmativa do Barão de Itararé de que "de onde menos se espera, dali mesmo é que não sai coisa alguma" é que a opinião pública vem se mobilizando com demonstrações diárias de que a reforma política será feita com a participação ou não do governo. Uma idéia que Lula e o grupo que o apóia têm custado a comprar, a ponto de o presidente riscar o PT de seu programa eleitoral. Se Geraldo Alckmin não consegue decolar é porque faixa expressiva do eleitorado não mais enxerga no PSDB ou no PFL alternativa de poder. Mas isto não representa que a reeleição de Lula seja o desejo generalizado.
Mais um mandato dos petistas representa a última chance de o partido fazer alguma coisa prestativa pelo futuro do País. Se vangloria de pôr na mesa do pobre comida e não renda, algo de bom resultado nas urnas apenas a curto prazo. Mas não serão suficientes outros quatro anos brandindo só esta bandeira. Lula terá de efetivamente governar, descer do pedestal para construir uma reforma política e eleitoral, pois, do contrário, pode ser que o tempo se feche no horizonte.


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/22/2006 09:25:00 AM      |