Por Adriana Vandoni
Observar e comentar a política sem ter lido Maquiavel e Sun Tzu traz a sensação de ter perdido um pedaço do filme. Maquiavel escreveu O Príncipe, uma visão da política amoral e sem escrúpulos, mas com clara diferença entre o fiel e o leal. Para Maquiavel um líder leal é aquele que cumpre seus compromissos morais, aquele que sabe os favores que deve e a quem os deve. Assume e cumpre todos. Um líder leal conquista seus espaços sem que seja preciso trair, porque aquele que tem clareza da sua posição não tem a necessidade da traição. Maquiavel comenta também, e isso é de suma importância em períodos como este, que o “soldado” que abandona o seu exército ou que não se esforça durante o combate, será aniquilado ou por seu próprio grupo, ou pelo grupo oposto, pois jamais terá a confiança de nenhum dos dois. Essa é a importância de deixar bem claro o seu campo de batalha. A população aceita os derrotados, mas jamais perdoa os covardes e os traidores. Sun Tzu escreveu A Arte da Guerra, no livro ele diz que o líder, para ser um vitorioso, depende de algumas habilidades. Basicamente deve conhecer suas fraquezas e suas forças, porque o resultado depende do uso correto dos fatores e esses, são seus. Conhecer a si mesmo não depende do outro, mas só se ganha uma batalha em cima do erro do outro. Básico! Quem não conhece seus limites, que não entre na guerra, pois o inimigo atuará nas suas vulnerabilidades. É por isto que ele diz: “a pessoa pode predizer uma vitória, mas esta não pode ser forçada”. Portanto, até aqui nós temos alguns preceitos simples do que faz de uma pessoa comum um verdadeiro líder ou faz de um pretenso líder um soldado sem escrúpulos, fraco e “derrotável”. Chegamos então em conceito que criei para analisar os políticos através de seus comportamentos: o índice de derrotabilidade. A idéia desse índice explica dois fatores: o primeiro é que a população é capaz de reeleger um sanguessuga, um mensaleiro, mas a população abomina o sem palavra, aquele que não sustenta suas opiniões e que traí o seu líder. O segundo fator que é demonstrado aqui é que um inimigo em potencial que conheça as fraquezas do outro o derrotará facilmente. Quando um pretenso líder adota posições que o deixam com um alto índice de derrotabilidade, ele está ensinando o caminho para derrotá-lo, basta acompanhar seus movimentos e anotar seus erros, o que certamente acontece. Sempre, em qualquer situação, existe um com caneta e bloquinho nas mãos para anotar as fraquezas alheias. Em política há um outro elemento muito importante e que depende da sorte: a circunstância, o momento, o timing. Esse fator é responsável por fatos como o que fez de Lula a esperança, de Blairo Maggi a mudança (que o elegeu governador de MT-PPS) e de Wilson Santos (prefeito de Cuiabá – PSDB/MT) o representante da cuiabania. Na verdade Lula matou a esperança, Blairo não mudou nada e agravou os erros e Wilson nunca foi o representante da cuiabania. No caso de Wilson, até agora ele está sabendo aproveitar com maestria o momento, mas um deslize poderá inviabilizar seus planos. Já vi muitos eleitos perderem as eleições por não se adequarem à imagem momentânea. Seria mais ou menos assim: imagine que nas eleições de 2002 foi tirada uma foto e Lula era a esperança. Ou ele se torna de fato a esperança, ou não vai se tornar o que a população espera que ele seja. Lula nunca foi a esperança, mas o momento o elegeu como tal. Sua imagem original era de radical, agressivo, explosivo. O momento fez dele dócil e o elegeu. Se o radicalismo aflorar, ele rapidamente voltará a sua imagem original. Mas Lula vem conseguindo manter a sua imagem de esperança, daí os números das pesquisas. Agora eu me recorro a outro escritor, o ganhador do prêmio Nobel Gabriel Garcia Marques, que em seu livro “Memória de minhas putas tristes”, diz ser impossível não acabar sendo do jeito que os outros acreditam que você é. Ou seja, momentaneamente você pode assumir uma imagem fotografada, mas não tardará, você retornará à sua origem e será da forma como é visto fora da fotografia. Parece que o político descrito por Maquiavel como sem lealdade, acaba dando veracidade a uma frase do Garcia Marques no mesmo livro, que diz mais ou menos assim: Na pureza dos princípios de quem não os tem, a moral é apenas uma questão de tempo.
Editado por Adriana às 8/29/2006 11:03:00 PM |
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