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O CUSTO EXTERNO DA CORRUPÇÃO
Editorial em O Estado de São Paulo
Se alguém imaginou que a descoberta do mensalão e de uma rede de corrupção na área federal não prejudicou a imagem do País junto à comunidade financeira internacional e, por isso, não afetou a disposição dos investidores de aplicar recursos no Brasil, agora sabe que estava enganado. Embora seja difícil medir com exatidão o impacto das seguidas denúncias de corrupção sobre a decisão das empresas e dos aplicadores, em geral, de investir no País, especialistas em investigações de fraudes no âmbito empresarial e de corrupção na esfera pública não têm dúvidas: o Brasil vem perdendo investimentos desde a denúncia do mensalão, em meados do ano passado.
Os bons resultados das contas externas do País, em parte assegurados pela entrada de capitais, seriam melhores se a corrupção não tivesse alcançado os níveis que atingiu. Por causa dela, “investimentos foram cancelados ou postergados, especialmente na indústria de transformação”, disse ao Estado o sócio da área de investigação de fraudes da consultoria Ernst & Young, José Francisco Compagno.
A afirmação é baseada nos resultados, divulgados há dias, de uma pesquisa que a empresa realizou com 586 executivos que trabalham em 19 países. Entre eles estão oito emergentes, entre os quais Brasil, Índia e China. Uma das conclusões é que, de cada cinco empresas com atuação internacional, uma deixou de investir em mercados emergentes em 2005, porque o risco de fraude era grande demais.
A corrupção em países como os três citados mais a Rússia – cujas iniciais formam a sigla Bric, criada para designar as regiões com maior potencial de crescimento nos próximos anos – é apontada por instituições internacionais e economistas como um obstáculo ao progresso dessas nações.
Relatório feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e apresentado na reunião ministerial realizada em maio, em Paris, advertia que “a falta de transparência na governança e a corrupção disseminada” no Brasil, Rússia, Índia e China inibiam os investimentos de empresas sediadas nos países que formam a organização e o comércio com esses mesmos países. A corrupção foi apontada também pelo megainvestidor americano Mark Mobius, quando visitou o Brasil há cerca de um ano, como uma das principais causas da redução do fluxo de investimentos externos para o País.
Decisões de investimento em países em desenvolvimento só são tomadas depois de exame minucioso dos pontos negativos e positivos do negócio. Disponibilidade de recursos naturais, tamanho do mercado doméstico e possibilidades de expansão, ambiente econômico para a produção e a comercialização, grau de liberdade para tomar decisões empresariais, infra-estrutura, oferta e qualidade da mão-de-obra, ambiente jurídico e institucional, estabilidade econômica estão entre as condições examinadas com grande atenção, pois parte dos investimentos é de retorno lento.
No caso brasileiro, o excessivo peso dos tributos sobre a atividade econômica, a insistência do governo em limitar a autonomia das agências reguladoras, o histórico de país mau pagador da dívida – imagem ainda não apagada da memória dos investidores – são itens que assustam os estrangeiros. E os investidores acrescentaram à lista a corrupção – um “custo oculto”, segundo Compagno.
As empresas que têm investimentos vultosos no País não alteraram seu programa de aplicações, para não prejudicar os projetos já em andamento. Em alguns casos, no entanto, deixaram de fazer novos empreendimentos. Caso diferente é o das empresas de médio porte, sem tradição no País. Temendo investir num país onde o grau de corrupção lhes pareceu alto demais, várias delas desviaram para outros países emergentes as aplicações que programavam para cá.
Qualquer que seja o tamanho da empresa, o que predomina entre os executivos consultados, segundo Compagno, é a percepção de que houve “retrocesso em relação à conduta ética no Brasil”. É uma forma elegante de dizer que a corrupção corroeu a credibilidade externa do País e inibiu investimentos.


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/29/2006 07:38:00 AM      |