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PARA NINGUÉM BOTAR DEFEITO
Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa
BRASÍLIA - Partindo-se da hipótese da reeleição do presidente Lula, uma série de questões começaram a ser examinadas no Palácio do Planalto, claro que em surdina, porque cantar vitória antes do tempo costuma não dar certo.
Como formar maioria no futuro Congresso é variável a depender, ainda, do resultado das eleições para deputado federal, mas como tudo indica a prevalência do PMDB como maior bancada, já se conversa sobre que ministérios e que peemedebistas serão oferecidos e escolhidos. As goelas estão abertas.
Da mesma forma, se parece provável a permanência de Renan Calheiros na presidência do Senado, como resolver a equação na Câmara? A praxe é de que a maior bancada indique o presidente, mas o atual, Aldo Rebello, que deseja ser o próximo, é do PC do B, partido sob o risco de desaparecer em função da cláusula de barreira. A candidatura natural do PMDB seria o presidente do partido, Michel Temer, mas, como ele apóia Geraldo Alckmin, não será o candidato ideal do presidente Lula. Muito pelo contrário.
Reformas institucional e eleitoral
Fazer o que no segundo mandato? Que prioridades estabelecer para um período que, conforme os detentores do poder, precisará mostrar-se diferente do primeiro? Mais eficaz, mais voltado para o desenvolvimento econômico, mais pródigo para os menos favorecidos. Com redução da carga fiscal, agilidade em obras de infra-estrutura, atenções especiais para a classe média. De que maneira, se a política econômica precisará continuar a mesma?
Na política, já foi anunciada a primeira iniciativa, da reforma institucional e eleitoral. Mas reformar o quê? Certamente acabar com a reeleição, a partir de 2010. Como? Ampliando-se para cinco anos os mandatos do presidente da República a ser eleito naquele ano? Como, porém, negar aos governadores eleitos em outubro o direito adquirido de concorrer a mais um mandato? Afinal, os que forem eleitos, sem ter concorrido à reeleição, seriam garfados assim, sem mais aquela? E os governadores escolhidos em 2010 teriam como o presidente da República mandatos de cinco anos, sem reeleição? Quanto aos prefeitos, como fazer, se as eleições nos municípios acontecerão em 2008?
Continuaria havendo coincidência de eleições estaduais e federais? Para tanto, não faltarão sugestões para se dar aos futuros deputados mandatos de cinco e não de quatro anos. Seria trágica a analogia, de os senadores permanecerem dez e não oito anos no exercício de seus mandatos.
Existem questões menos teóricas e mais pontuais que o presidente Lula precisará enfrentar antes mesmo da segunda posse. O PT elegerá poucos governadores daqui a um mês, segundo as pesquisas: Acre, Piauí, Sergipe?
Qual será, então, o relacionamento do governo federal com os governadores de outros partidos? Poderá haver composição com os filiados ao PMDB, mesmo se Germano Rigotto, Luiz Henrique e Roberto Requião forem reeleitos, apesar de governistas, propriamente, eles não serem. E os governadores de oposição, como José Serra, em São Paulo, Aécio Neves, em Minas, Paulo Souto, na Bahia, e outros de nítida inclinação oposicionista?
Já se fala em 3º mandato para Lula
Alguns fios de barba e de cabelo do presidente Lula ficarão pelo caminho, quando convocar os governadores, receber deles rapapés e reverências, mas sabendo que serão seus adversários. Em especial diante da sucessão presidencial de 2010.
Aliás, senão preocupação, ao menos uma tentação será, para o presidente, o raciocínio já ouvido nos porões do Palácio do Planalto: se o segundo mandato for conquistado assim tão facilmente, não será sinal de que o País anda feliz e satisfeito, pronto para aplaudir o terceiro mandato? A reforma política assumiria a pole-position nessa corrida ilimitada.
Outras questões se colocam em cascata: fazer o que com os sem-terra, tendo em vista a fraca performance do primeiro governo em termos de reforma agrária? Enfrentar os ruralistas e as elites numa de suas mais sólidas convicções, relativa ao direito de propriedade? Arriscar-se a bater de frente com um Judiciário conservador?
Trata-se de um exagero, mas se o presidente Lula soubesse, meses atrás, do volume de obstáculos a enfrentar no segundo mandato, quem sabe não tivesse convidado Dona Marisa para retornar a São Bernardo, no primeiro dia do ano que vem? O diabo é que, em política, só existe porta de entrada. De saída, ainda não foi aberta, senão em raríssimas exceções. Getúlio Vargas, com o qual o Lula gosta de comparar-se, ficou quinze anos de uma vez e três e meio em outra. Em compensação, D. Pedro II ocupou o trono de 1831 a 1889.
Em suma, abre-se a perspectiva de um segundo mandato para ninguém botar defeito. Nem para imaginar vir a ser um período de paz e amor. Porque nem falamos, hoje, do que poderá nos trazer o quadro internacional...


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/28/2006 03:54:00 AM      |