Por José Inácio Werneck Estados Unidos, 27 de agosto
Começa amanhã o Aberto de Tênis nos Estados Unidos – o que me lembra que, se eu tivesse acreditado em meu dentista, teria agora quatro dentes a menos, todos na frente. Venho de uma família de bons dentes, encabeçados por um avô que nunca teve uma cárie na vida, em seus 82 anos de vida, e outros membros igualmente bem dotados no departamente de incisivos, caninos, molares e pré-molares, aí incluídos os de siso. Mas sou, no ramo, a ovelha negra.
Minhas desventuras, porém quase sempre vêm dos dentistas – a começar por um, irmão do locutor Jorge Cury, que me fez perder meu primeiro dente na vida, depois de me convencer que uma obturação de amálgama poderia “eletrocutar” minha boca. Há um ano, ao chegar em casa à noite, depois de trabalhar na cobertura televisiva do US Open, e sem querer acordar minha mulher, dei tremenda trombada, no escuro, em uma estante de livros, o que me deixou com quatro dentes bambos e o diagnóstico do dentista: precisaria arrancá-los e substitui-los por implantes. Resisti, porém, e ainda os tenho, se bem que um continue em estado quase tão duvidoso quanto a honestidade dos homens públicos no Brasil. Algum tempo depois de atropelar a estante, acidentei-me no ginásio. O ortopedista me submeteu a uma ressonância magnética e declarou: “precisas operar o menisco, imediatamente”. Empaquei, de novo, e hoje meu joelho desempenha com galhardia todas as tarefas que lhe imponho. Não estou talvez em forma para jogar futebol profissionalmente – mas, como vimos no Mundial da Alemanha, diversos de nossos jogadores tampouco estavam. Minha conclusão é que, nos Estados Unidos, você está sempre cercado de gente querendo aliviar seu bolso, sob os mais variados e desnecessários pretextos – desde uma televisão plana a um novo modelo de carro, um celular diminuto ou a uma recauchutagem de norte a sul, leste a oeste em seu organismo. Dizem que este consumo hipertrofiado é que mantém a economia do país em estado de dinamismo mas, no que depender de mim, ela bem que poderia funcionar devagar, quase parando.
(*) José Inácio Werneck, escritor e jornalista, tem passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. É autor de um estudo sociológico “Com Esperança no Coração: Os Imigrantes Brasileiros nos Estados Unidos” e de uma novela, “Sabor de Mar”. Exerce as funções de Intérprete Judicial do Estado de Connecticut.
Editado por Adriana às 8/27/2006 11:01:00 PM |
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