Por José Nivaldo Cordeiro em Mídia sem Máscara Salvo algum acontecimento cataclísmico que mude a realidade de forma súbita, Lula está reeleito, provavelmente no primeiro turno. Sua consagração nas urnas terá conseqüências e exige do analista um esforço de atenção para compreender as duas faces da mesma moeda: de um lado, o que determina o fenômeno político que o triunfo Lula representa e, do outro, o que acontecerá com sua presença por mais quatro anos no poder federal.
Compreender a sua reeleição é tarefa não tão fácil. Claro, a traição política correu solta, com aliados e mesmo integrantes do PSDB apoiando a candidatura oficial sem qualquer cerimônia e isso explica parte de sua vitória. Um caso explícito e oportunismo político e cegueira ideológica. Um certo político mineiro disse uma vez que pode se pedir qualquer coisa a um político profissional, menos que faça suicídio eleitoral. Certo? Errado. Esse político, se não me engano Tancredo Neves, era pequeno, como pequenos são os anões que formam a quase totalidade de nossa classe política. Há um vácuo de estadistas, que põem sempre em primeiro lugar os interesses maiores da Nação. Por pensar assim é que os malditos que fazem a revolução gramsciana “por dentro” foram, pouco a pouco, ocupando todos os espaços, a ponto de dominarem não apenas o cenário político nacional em substituição aos “espertos” que negociam tudo, mas quase todo o aparelho de Estado. Dominaram também toda a produção cultural (a coluna de Diogo Mainardi na Veja que acabou de chegar às bancas mostra em poucas linhas como o poder sem nenhum caráter de Lula comprou a consciência dos produtores culturais, além dos corações que já lhe tinham sido entregues gratuitamente), a classe jornalística, o professorado, a classe letrada em geral. É praticamente impossível a uma pessoa “normal” escapar à lavagem cerebral com todos esses sofistas fazendo a propaganda da causa. A alternativa liberal-conservadora praticamente deixou de existir no Brasil. Ser “normal” no Brasil de hoje é ser de esquerda e apoiar o distributivismo irracional e imoral. Some-se a isso o escambo nojento que tem sido a compra de votos mediante as muitas bolsas disso e daquilo, que praticamente deram a Lula a totalidade dos votos dos miseráveis de todo o Brasil. Do mesmo modo a irresponsável elevação recente do salário-mínimo, que fabricou uma bomba de efeito retardado na economia. É a maior imoralidade política registrada na história recente, só comprável aos votos de bico de pena da República Velha. O ônibus eleitoral de Lula foi completado com figuras vetusta do porte de José Sarney e Renan Calheiros, personalidades que encarnam o oportunismo e a amoralidade política em sua forma arquetípica. O ex-presidente terá sido a personalidade isolada mais nefasta que apareceu no Brasil nas últimas décadas, tendo participado de todas as decisões que ajudaram aos coletivistas a tomar conta da Nação, desde a sua malfadada posse na Presidência da República. Não surpreende que hoje seja o principal aliado de Lula e seu cabo eleitoral mais eficiente. [Faço um parêntese aqui para registrar que o acaso pode ter ajudado o Brasil a atravessar esse túnel sombrio que é a Era Lula. Se José Serra tivesse sido lançado candidato à Presidência pereceria igualmente e não teríamos em São Paulo um nome capaz de resistir à avalanche petista. Não me canso de sublinhar a importância que tem a manutenção do governo de São Paulo na oposição e prognostico que ele será o bastião da resistência que será necessária para a preservação das liberdades públicas e da ordem constitucional ao longo do segundo mandato. Da mesma forma, lamento que Guilherme Afif Domingos, grande combatente da liberdade que é, não tenha composto a chapa com José Serra, pois dificilmente terá chance eleitoral contra Eduardo Suplicy. A eleição de Serra, todavia, esvaziará a bancada federal do PT, ajudando a manter o Congresso com perfil oposicionista.] Dois fatores são os mais determinantes para a vitória eleitoral de Lula. O primeiro é a plenitude da tresvalorização de todos os valores obtida com a revolução gramasciana posta em marcha décadas atrás, que atinge o duplo objetivo de anestesiar as massas e de impor o relativismo moral e político. Conseguiram a proeza de eliminar o instinto de sobrevivência e o senso de perigo dos brasileiros. A falência da família, o descrédito das religiões, a transformação do hedonismo em meta de vida, os vícios mais nojentos transformados em bandeiras políticas, a exemplo do aborto e da proibição do trabalho dos jovens, formaram o caldo de cultura para a adesão às idéias mais sinistras (aqui, nos dois sentidos). Chegamos a ponto de um partido trotskista, portanto revolucionário e amoral como é o PSOL, aparecer para a opinião pública como um contraponto ético ao PT. O outro fator é a personalidade de Lula. Vi alguns dos programas eleitorais ditos “gratuitos”. A voz dele foi aperfeiçoada a ponto de ficar aveludada. Não muda a entonação, fala como um pai bondoso ao filho pequeno, numa linguagem de lugares-comuns. Lula virou um ator de um único personagem, criado por ele. Luiz Inácio não é Lula. Lula é uma fraude, uma enganação, uma ilusão. Mas, como Hitler, seduz as multidões e não tem escrúpulos que lhe impeçam de usar os instrumentos de Estado para cabalar os votos da massa idiotizada diante do ator medíocre. Esse fator é, isoladamente, o mais determinante do fenômeno político marcante que será a sua reeleição. O que poderá acontecer depois de fechadas as urnas? Sou pessimista. Acho que Lula e o PT sairão do armário em que esconderam seu voluntarismo revolucionário. Sabem que não dispõem de um outro cabo eleitoral à altura de Lula para fazer um sucessor nas urnas. Será o seu momento mágico, a sua chance histórica. Penso que mandarão às favas a responsabilidade fiscal, aumentarão a pressão por uma reforma constitucional que sacramente sua crença política e dessa forma colocarão em perigo a liberdade. Movimentos como o MST atuarão com total desenvoltura. O alinhamento com Hugo Chávez e o Foro de São Paulo será aberto e destrutivo e não me surpreenderia o envolvimento do Brasil em alguma aventura armada. Enfim, espero o caos, o empobrecimento, a inflação e a quebra do Estado. Tudo que peço a Deus é que eu esteja enganado, seja no que se refere à certeza da eleição de Lula, seja no prognóstico do que poderá acontecer.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/28/2006 04:03:00 AM |
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