Por Adelson Elias Vasconcelos, em Comentando a Notícia Tempos difíceis os nossos. A forma vergonhosa como as autoridades da República estão patrocinando uma acintosa e vexatória degradação dos princípios políticos que deveriam nortear a vida pública brasileira, por seus atos ou omissão acabam por concorrer para uma deterioração ainda mais acentuada. Justificativas inconseqüentes, promessas que nunca se cumprem, conversa mole e pura perda tempo. Genuíno "embromation". Ação que é bom, absoluta e absurdamente nada. E nós que sustentamos essa parafernália toda chamada república brasileira ou de bananas, somos obrigados a ouvir seguidamente pessoas de grande brilho dizendo ou afirmando coisas de pequena ou nenhuma importância. Haja paciência ! Não bastasse o Legislativo envolto, mais uma vez, em corrupção e falcatruas de toda a sorte e gênero, sempre com a conivência do Executivo uma vez ser ele quem detém a chave do cofre, e muita vezes como neste governo ser o próprio agente das práticas delituosas, vê-se que este mesmo Executivo já tão apodrecido, consegue enxovalhar mais ainda nossa história e nossas tradições de respeito às instituições brasileiras, como as que patrocinou recentemente em unidade militar em São Paulo. E, infelizmente, sequer se pode contar com o policiamento que caberia ao Judiciário, uma vez que se percebe, por sua falta de ação, ter desistido de cumprir o papel lhe cabe para a moralização da vida pública nacional. Também o Judiciário lavou as mãos.
O General da Reserva Torres de Melo, do Grupo Guararapes, lançou um manifesto criticando a ida do presidente-candidato Lula da Silva a uma unidade do Exército, na sexta-feira passada, fazendo marketagem com a força armada. “Outro caso que causa revolta é a utilização, pelo candidato, que é também Presidente da República, de prédios públicos para sua campanha. A ida de S. Exa, o candidato LULA, ao Comando Militar do Sudeste (e que fica num Quartel do Exército) fere a Lei Eleitoral. Não se tem notícia de Presidente da República fazendo visita a Quartel, nem no tempo da Ditadura tão falada e maldizida. Até o já tradicional almoço do fim de ano, reunindo o presidente e generais em Brasília, é realizado num Clube Militar, não se podendo criar idéia de Política Partidária. Agora, o Candidato vai ao Quartel, dá entrevista, joga o Exército contra o Governador do Estado e sai rindo e alegre, pois criou um fato político que coloca seu opositor em situação delicada. Na realidade, o que pretendeu foi fazer o Exército de palanque, em mais uma de suas estripulias, como cansou de fazer quando ainda não se confirmava candidato. Mais uma prova de que não tem postura nem compostura para o cargo para o qual foi eleito”. O General Torres de Melo cobra uma posição do Tribunal Superior Eleitoral sobre o caso. Por outro lado, conforme afirmamos acima, quando se espera que o Poder Judiciário cumpra com sua função constitucional, somos surpreendidos com declarações tão absurdas quanto inverossímeis. O Ministro Marco Aurélio de Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, afirmou que "a sociedade não é vítima", pois é responsável pela eleição dos "homens públicos que aí estão". Em pronunciamento em cadeia nacional, ministro diz que "quem não obedece à lei não merece respeito e muito menos o seu voto". Melhor faria o ministro se se mantivesse quieto. Declaração infeliz e patética de sua excelência, é do que menos precisamos para momento já tão ruim ! No pronunciamento feito ontem para anunciar o início da propaganda eleitoral gratuita, que será veiculada a partir de hoje, Marco Aurélio pediu uma revolução pelo voto: "É hora de nos prepararmos para a verdadeira revolução, que é a revolução pelo voto. Aproveite, eleitor, o conhecimento adquirido com a propaganda eleitoral e não se omita quanto ao que pode e deve fazer em benefício da nação, do crescimento geral." Sem citar os escândalos recentes, disse que "o momento requer a maior atenção" e condena o voto nulo: "Eles [os eleitos] decidirão sobre quase todas as coisas que afetam a nossa vida, mas, no dia 1º de outubro, você será o patrão, o chefe", E ainda prosseguiu: "É preciso não esquecer que as conseqüências das eleições são duradouras. (...) Não se omita, nem desanime." E continua: "Observe a situação de hoje a exigir de todos nós muita responsabilidade. Sim, devemos exercer a cidadania com os olhos voltados à preocupação com o bem-estar geral, com o patrimônio público". Ele pediu ainda que as pessoas prestem atenção "no que dizem e como se comportam, no que fizeram no passado e, principalmente, de saber se essas pessoas são de fato corretas e cumpridoras dos deveres". A grande dúvida que assalta o eleitor é a aparente omissão do Poder Judiciário, quando nos cobra "responsabilidade". "Por que somente eu, o eleitor, devo ter responsabilidade ?" E o eleitor continua: "Por que a justiça eleitoral não proíbe que bandido, corrupto de toda sorte seja mensaleiro ou sanguessuga possa concorrer ? Se o TSE impedisse que o nome de qualquer pessoa que responde por processo judicial, principalmente aqueles que estavam investidos de mandatos parlamentares e em inquérito legislativo foi apontado como corrupto, simplesmente fosse impedido de concorrer a qualquer outro cargo, não ficaria mais fácil para a moralidade da vida pública nacional ?" Quando se vê um candidato à reeleição usar e abusar do uso da máquina pública, usar e abusar de prédios públicos para palanque eleitoral, usar e abusar de transgredir os limites da decência que o cargo e a lei eleitoral lhe impõem, sob o beneplácito do TSE, é de se perguntar: para que serve afinal o TSE, para entupir os ouvidos do eleitor para justificar sua negligência ou sua omissão ? E prá quê serve então a legislação eleitoral ? Porque o TSE não os torna inelegíveis para evitar de serem votados ? Ora, faça o favor, não justifique os crimes dos políticos atuais desta maneira vergonhosa. Se receberam voto, e descumpriram a lei, porque a lei não os alcança ? Por que o TSE, por seu ministro, simplesmente lava as mãos e cruza os braços? Ou será que está de greve por ganhar pouco ? Diante da inércia do TSE, com seu presidente, em pronunciamento em cadeia nacional, afirmar que "quem não obedece à lei não merece respeito e muito menos o seu voto", é de se complementar, dizendo que, assim como o candidato não merece respeito, se o presidente do TSE não cumpre com sua função, suas afirmações indecentes não merecem nem crédito nem respeito, bem como não poderia estar investido do cargo que ostenta.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/16/2006 04:26:00 AM |
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