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AGORA VAI. OU RACHA
Por Dora Kramer em o Estado de São Paulo
Começa nesta semana, com os debates e a propaganda eleitoral diária no rádio e na televisão, o período decisivo da campanha eleitoral às eleições presidenciais - a quinta desde a redemocratização do País, há 21 anos, e a segunda sob o instituto da reeleição, introduzido na política brasileira em 1997 para dar ao então presidente Fernando Henrique Cardoso a chance de um segundo mandato.
Embora sejam 45 os dias disponíveis para os candidatos mostrarem ao que pretendem vir, a impressão deixada pelos primeiros será essencial para indicar se o presidente Luiz Inácio da Silva terá competidores de verdade no dia 1° de outubro ou se os que se apresentam como adversários serão meros coadjuvantes de um processo de homologação ao favoritismo até agora expresso nas pesquisas pela reeleição.
Cada qual terá um papel específico a cumprir. Geraldo Alckmin tem a missão mais difícil: tornar-se conhecido, conquistar a simpatia do eleitor, convencê-lo de que é uma alternativa viável de poder e, dessa forma, conseguir chegar ao segundo turno.
Heloísa Helena vai precisar mostrar se é candidata para valer ou se é apenas uma coqueluche passageira. Tem a desvantagem do tempo exíguo (1 minuto e 11 segundos) no horário eleitoral e baixa expectativa de vitória.
Cristovam Buarque, sem compromisso com a disputa, cumpre o importante papel de fincar a bandeira da educação como prioridade nacional.
Lula fica com a tarefa de sustentar a dianteira. Não é fácil. Não se pode comparar a situação dele com a de Fernando Henrique em 1998. A despeito do então presidente já sofrer à época resistências na classe média e ainda contar com apoio nas classes C, D e E por causa do plano de estabilização, FH não tinha de enfrentar questionamentos éticos na proporção dos que atingem a figura de Lula.
Ele não foi a debates porque podia escolher não ir e, assim, evitar ser alvo dos ataques dos adversários, notadamente Lula e Ciro Gomes. Tinha mais a perder, mas poderia também ganhar.
Lula é diferente, não tem escolha. Se for - e não vai - a perda é certa e inevitável. Primeiro, pelo fato de os assuntos, como mostrou a entrevista do Jornal Nacional, da agenda de questionamentos ao presidente serem todos altamente constrangedores. A corrupção dominaria o debate, com Lula na berlinda.
O segundo motivo que demonstra acerto na decisão - não do ponto de vista do eleitorado, mas da conveniência de sua estratégia de comunicação - é que Lula, por uma questão de treino, formação político-profissional, personalidade e carência cultural e educacional, não é bom no contraditório. Ele se enerva e se perde ao ser confrontado com questões difíceis, que exigem maior elaboração de raciocínio e até lógica para não cair em contradição.
Não por outro motivo - as acusações de vocação ao autoritarismo são a simplificação de uma realidade subjacente mais complexa - o presidente concedeu apenas uma entrevista coletiva no País em quatro anos de mandato e mesmo assim com restrições a réplicas.
Lula conta com a monumental vantagem do cargo, mas é o que mais riscos corre diante das armadilhas que monta para si com seus excessos verbais e arroubos de temperamento quando se sente seguro do sucesso. Quanto mais tiver medo de perder, mais chance terá de ganhar.


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/15/2006 04:55:00 AM      |