Por Josias de Souza na Folha de São Paulo A ausência de Lula transformou o debate da TV Bandeirantes num encontro de comadres. Não houve um vencedor. Mas houve um perdedor: Indefeso, Lula apanhou até dos nanicos. De resto, perdeu o eleitor, desrespeitado em seu direito de ouvir meia dúzia de explicações do candidato favorito ao Planalto. Até o inexpressivo José Maria Eymael (PSDC) tirou uma casquinha de Lula: “O presidente nunca viu nada, nunca soube de nada. Talvez não soubesse que hoje tinha debate”. O presidente perdeu duplamente: além da surra coletiva, deixou escapar a oportunidade de ocupar um espaço para expor os seus planos de governo. Foi o que fizeram os demais. Heloisa Helena ainda tentou arrastar Alckmin para o tatame. Tratou PSDB e PT como farinha do mesmo saco. O presidenciável tucano, porém, fez ouvidos moucos para as provocações. Falou diretamente para a câmera. Usou as perguntas dos adversários e dos jornalistas como escada para atingir o seu objetivo: a exposição máxima de propostas.
Só os termos acerbos dirigidos a Lula quebraram a atmosfera água-com-açúcar que permeou o debate. HH realçou a “tristeza e indignação de não ter aqui ao lado o presidente Lula. Não aceito que a arrogância dele o faça pensar que é maior do que os outros. Ou que nós tenhamos que pensar que ele está fugindo, que está com medo”. Instado por Eymael a explicar a crise de segurança sob os 12 anos de gestão tucana em São Paulo, Alckmin saiu pela tangente: lamentou “a ausência do Lula, que deveria prestar contas de por que se omitiu na questão da segurança pública”. Desviou-se de sua responsabilidade culpando a “omissão federal” no controle da entrada de armas e drogas pelas fronteiras, na falta de liberação de verbas e na ausência de reformas de leis federais. Cristovam Buarque só abandonou sua cantilena cívica em favor da “revolução educacional” numa única oportunidade. Disse o seguinte: “Minha decepção maior é com a ausência dele (Lula) naquela cadeira. Ele não tem o direito de fugir do povo”. Voltando-se para a câmera, Cristovam bateu mais: “Você tem o direito de olhar no olho do candidato. A ausência é uma falta de muito grande com processo democrático e com o eleitor (...). Você não recebeu o respeito dele de olhar nos seus olhos”. No mais, cada candidato usou o tempo de que dispôs para vender o seu peixe. A experiência mostra que, em encontros do gênero, sem o predomínio nítido de uns sobre os outros ou de um sobre os demais, os expectadores tendem a considerar como vitorioso aquele candidato que já era o seu preferido. Nesse sentido, tiram maior proveito Alckmin e HH, que ocupam a segunda e a terceira posição nas pesquisas. Com alguma sorte, os dois podem ter beliscado um ou voto indeciso. O pior, no caso de Lula é que nenhum dos presentes mostrou-se à altura de sua habilidade retórica, construída sobre os caminhões de som dos sindicatos e nos embates que se viu forçado a travar em campanhas anteriores, quando não ostentava a condição de favorito. Não havia na bancada da Bandeirantes nenhum polemista à altura de Lula. O que diferencia o velho Lula do candidato à reeleição é a posição que ocupa no ringue. Ontem, estava no ataque. As encrencas colecionadas no Planalto o colocaram na defensiva. Lula está habituado a alfinetar, não a ser alfinetado. Por isso limitará a sua participação na campanha aos comícios e ao horário eleitoral partidário. Lula quer falar sozinho. O apego ao monólogo é próprio dos candidatos que estão de bem com as pesquisas. Foi assim com FHC em 98. É assim com José Serra em 2006. É um vício suprapartidário. Para sorte dos faltosos, o eleitor menos esclarecido não costuma dar atenção a debates televisivos. O prejuízo maior é junto ao eleitorado mais escolarizado. Ou seja, a minoria.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/15/2006 03:40:00 AM |
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