por Paulo Skaf em O Globo Alea jacta est , uma das mais célebres frases da história, foi pronunciada por Júlio César em 49 a. C., ao cruzar o Rio Rubicão, iniciando campanha que mudaria radicalmente o destino do Império Romano. Por decisão do Senado e do inimigo político Pompeu, César fora destituído do cargo de governador das Gálias e recebeu ordens para depor armas. Porém, decidiu não se resignar. Invadiu a Península Itálica, conquistou Roma e alterou um futuro que estava delineado. Felizmente, pelo menos entre as nações mais civilizadas e as pessoas de boa vontade, no mundo contemporâneo a pena e o voto livre substituíram a espada como instrumentos capazes de promover mudanças socioeconômicas e geopolíticas. A analogia com o primeiro imperador da Roma Clássica, contudo, é bastante oportuna quanto à necessidade de não se aceitar o errado, o aparentemente imutável, os dogmas e estigmas que permeiam a trajetória de um povo. Estas são reflexões importantes para o brasileiro, neste momento em que se dá a largada em mais um processo eleitoral importante, no qual iremos às urnas para eleger o presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. O pleito de 2006 reveste-se de especial significado para o país, pois vai acontecer em seguida à repetição de um vício antigo de seu setor público, a erva daninha da corrupção. “Mensalão”, dólares em peças íntimas, “sanguessugas”, malas de dinheiro sem clara origem e outras mazelas repetiram velhas práticas não-republicanas, que, na verdade, envergonham e ferem a auto-estima de nossa gente. Assim, é imensa a responsabilidade do eleitor no sentido de votar com plenitude de consciência, elegendo candidatos comprometidos com a ética e a solução dos problemas crônicos, como o desemprego, o baixo crescimento econômico, a ausência de políticas públicas capazes de garantir o avanço sustentado da economia, o resgate da dívida social e a mitigação de suas conseqüências, como a tragédia das crianças carentes e abandonadas e o flagelo da violência, cada vez mais perigosamente exacerbada. Por isto mesmo, ao analisar os candidatos, não se pode restringir tal tarefa apenas à visão limitada do conceito de “ética”. Embora imprescindível e intangível, a probidade administrativa não é virtude suficiente para afiançar os postulantes a cargos públicos. Deve-se partir, nas reflexões voltadas à definição do voto, do pressuposto inerente à missão do Estado: garantir direitos e deveres de modo equânime; disponibilizar serviços de qualidade em saúde, educação, segurança, moradia e infra-estrutura; e estimular a economia, sem interferir nos sistemas produtivos. Tais atribuições sintetizam o modelo ideal do Estado contemporâneo, nos níveis federal, estadual e municipal. Entendida esta síntese, conclui-se que ética é a personalidade pública que busca realizar tudo isto com eficácia e honestidade. Ou seja, o ímprobo e o incapaz e, de modo mais agudo, aquele que reúne os dois graves defeitos faltam com a ética. A clara compreensão desse binômio — “competência e honestidade” — torna mais fácil delinear o perfil do gestor público. Ou seja, o verdadeiro estadista é o que tem como principal virtude a sensibilidade de identificar prioridades e de as atender sem quaisquer transgressões e prevaricações. Isto subentende o compromisso com programas administrativos que, no mínimo, promovam a melhoria da qualidade de vida e, embora com um olhar responsável perante a dívida social, exercitem na prática a consciência de que crescimento econômico, geração de emprego e renda, bem como a sua distribuição mais justa, são os mais eficientes e dignos meios de inclusão. O alinhamento a esses compromissos revela a envergadura dos gestores e a estrutura de Estado de que o Brasil precisa. Muito além da retórica dos palanques e do marketing, que transforma os candidatos em interessantes produtos, a sociedade almeja um projeto exeqüível de nação, contemplando o desenvolvimento socioeconômico e o saneamento moral do setor público. Políticos comprometidos com metas como estas, que possibilitem vislumbrar o futuro próximo com mais otimismo, estão consoantes aos anseios dos brasileiros por um país mais desenvolvido, justo e capaz de ratificar o conceito decisivo de que a ética é a principal marca dos povos vencedores! O destino, portanto, está no gesto de cada cidadão ao digitar os números de seus candidatos nas urnas eletrônicas. E não basta votar! É preciso cobrar os compromissos de campanha. É básico — evitando a repetição de erros do passado — reivindicar dos recém-eleitos, principalmente o presidente da República e congressistas, que realizem com rapidez as reformas necessárias (política, tributária, previdenciária, trabalhista e econômica), antes que se formem as conhecidas oposições e se organizem os grupos de interesses segmentados, sempre capazes de obstaculizar a aprovação de projetos importantes. Estas são as reflexões que deveremos fazer — armados apenas com nosso título eleitoral e nossa consciência — ao cruzarmos, soberanos, a porta da seção eleitoral, em 1 de outubro. Brasileiros, a sorte está lançada!
Editado por Giulio Sanmartini às 7/21/2006 04:24:00 AM |
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