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   Domingo, 2 de Março
SÃO CHATOS EGOISTAS E INJUSTOS
Por Ralph J. Hofmann

OK. Eu aceito. Não tenho personalidade, sou um fraco. Com todos os anos de propaganda contra o tabagismo continuo fumando meu cachimbo. Quando comecei a fumá-lo todos diziam que eu era um adolescente querendo aparecer. Assumo isto. Mas todos os meus colegas fumavam cigarros. Eu nunca fumei cigarros.
Por outro lado vejam que hoje continuar fumando exige muita personalidade e teimosia. Usar óculos e fumar cachimbo mais ainda. Pior só se fumasse cigarros com uma longa piteira de âmbar e usasse pince-nez ou monóculo. Todos mundo pré-julga pessoas como eu e o General Spínola (que fumava com piteira e usava monóculo). Não nos enxergam, enxergam os apetrechos que portamos.
Na verdade existe mais uma categoria de pessoa odiada. Presidente/General de óculos escuros ou seguranças presidenciais de óculos escuros.
No que diz aos óculos, e outros instrumentos de ordem visual nossos detratores nada podem fazer. Mas estão nos perseguindo mais do que fazendeiros australianos caçando lebres. Mais do que petistas montando caixas dois. Mais até do que colonos italianos da serra gaúcha caçando passarinhos para comer com polenta.
Não nos atrevemos a fumar em Shopping Centers, aeroportos, prédios públicos lojas, etc.
Já passei mais de 24 horas sem fumar. Saí de avião de uma cidade, passei horas num aeroporto intermediário, onde havia local para fumantes mas o ar de condenação era tão extremo que tive medo de ser linchado se fumasse. Mais dez horas de avião e um aeroporto em que fumar era absolutamente proibido. No aeroporto pensei ir para fora, mas soprava um vento gelado, optei por aguardar até chegar ao destino. Chegando ao destino no hotel não havia quarto para fumantes. Acabei achando um restaurante com área para fumantes. Depois aprendi a fumar em quarto para não-fumantes e deixar uma boa gorjeta. Ou fumar na banheira. Uma banheira de água quente, um bom livro e um bom cachimbo realmente são presentes dos deuses.
O problema é o seguinte. Há pessoas que abusam do direito de não fumar. Alguns dias atrás almocei num pequeno restaurante em um alpendre aberto, fechado lateralmente apenas com barras de ferro. Dia até frio, almocei fora para depois do almoço saborear um cachimbo. Alguém acabou por exigir que o proprietário me obrigasse a parar. Ao ar livre! Sai bronqueando mas faltou-me a fibra para exigir que os incomodados se retirassem.
Ha pouco vi um bar que optou por tornar-se apenas para fumantes sendo perseguido por essa decisão. Alegaram que havia detalhes de ventilação inadequados, mas até colocar uma placa dizendo que era só para fumantes o dono do bar nunca fora incomodado.
Desde que meus filhos eram pequenos recomendei que não fumassem. Espero que não fumem maconha em lugar de tabaco. A propaganda dos adolescentes que fumam maconha é que faz menos mal que nicotina. Mas o que fazer com aqueles da minha geração que realmente sentem que fumar os conforta?
Estou disposto a fumar ou no meu escritório individual ou na varanda, estou disposto a ter exaustores, num dia de frio intenso sou capaz de sentar-me ao relento encasacado para fumar. Não quero pestear filhos, enteados e companheira com meu cachimbo, não fumo mais quando tenho companhia no carro (salvo por distração), mas sinto o extremo a que estamos chegando, em que lugares de lazer nem mesmo tenham áreas para fumantes, confortáveis, demarcadas indica toda a chatice, egoísmo e injustiça das pessoas que não nos permitem sermos nós mesmos, ter nossas próprias opiniões e opções.
Acaba sendo mais uma manifestação de tiranetes do Políticamente Correto. Das pessoas que chegam a matar os que se recusam a concordar com elas.
Por isto acho que nós fumantes devemos exigir garantias aos nossos direitos. Devemos ter o direito de comprar um pacote de fumo sem um alerta de saúde (se bem que esses alertas não me incomodam, são meramente uma questão de invasão de espaço).
Os anti-tabagistas deveriam ser obrigados a obter conosco um documento assinado autorizando os a dar seu recado anti-tabagista antes de nos fazerem um discurso. Meu pneumologista é a exceção Eu adoro aquele discurso anti-tabagista que ele me faz antes de abrir o envelope com meu Raio-x e constatar que não tenho sequer uma marca de nicotina no pulmão. Aí ele tem de ouvir cinco minutos de discurso a favor do charuto e do cachimbo.
Em lugar de nos levar para a área de fumantes dos restaurantes os maîtres deveriam ser obrigados a perguntar se vamos continuar fumando ou não. Pessoalmente gosto de almoçar na área de não-fumantes mas acho que devia haver uma área de fumantes para tomar o cafezinho e licor.
E, finalmente antes de eliminar os fumantes no Brasil deveríamos eliminar a corrupção. A corrupção dá mais prejuízo ao país do que os fumantes, donde somos o mal menor. Mas somos indefesos comparados aos corruptos.


Editado por Adriana   às   7/21/2006 02:00:00 AM      |