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SAUDOSISTAS
Por Ralph J. Hofmann
Pessoas como Bruno Maranhão, Zé Dirceu e João Pedro Stédile são prisioneiros das ilusões adquiridas na juventude. Os anos passaram, os princípios que adotaram provaram ser ineficazes mas eles não os retificaram. Simplesmente se acostumaram a eles de tal maneira que hoje não tem a menor idéia do que se propunham a fazer com estes princípios. Aliaram-se a verdadeiros monstros como contrabandistas de drogas, assassinos e seqüestradores, acostumaram-se a viver bem com a receita de crimes e saqueiam a sociedade como se isto fosse apenas uma fase intermediária que seria posta de lado uma vez conquistado o Poder. A realidade é outra. Em nenhuma sociedade conquistada pelos seus congêneres, os líderes sobreviventes depois das “noites de facas longas”, que em algum momento sucedem a vitória para decidir quem fará jus ao botim da conquista, efetivamente socializaram o conforto e a prosperidade. Em todas as sociedades criaram uma nova aristocracia.
Mas jamais se olharão no espelho e reconhecerão que estes princípios, baseados em histórias de paladinos socialistas, de meninos denunciando os pais executados por esconder parte da colheita para alimentar os seus no inverno já vão longe e nada tem a ver com o que se tornaram.
É como se eu e outros leitores das obras da Coleção Terramarear dos anos quarenta aos anos sessenta tivéssemos até hoje a ilusão de estarmos a bordo do navio do Capitão Blood, nas matas de Sherwood com Robin Hood desarmando os esquemas do Xerife de Nottingham e do Príncipe João-Sem-Terra ou cavalgando com os Três Mosqueteiros de Dumas para recuperar as jóias que a Rainha da França dera ao Duque de Buckingham.
Esses sonhos fazem parte de nós, mas as realidades de ocupar empregos com eficácia, criar filhos, semanas de quarenta a quarenta e oito anos de trabalho nos deram uma forte dose de realidade. De vez em quando tiramos esses velhos sonhos do escaninho onde os guardamos, os reconhecemos como parte do que somos, e seguimos adiante com a realidade. Eles nos formaram, nos deram noções de um heroísmo e coragem que estão dentro de nós, mas o que nos tornamos com o passar do tempo é algo mais heróico ainda, pessoas que cuidam no dia-a-dia dos seus. É o heroísmo do homem comum, celebrado pelo compositor Aaron Copland na sua “Fanfara para um Homem Comum”, bastante tocada por ocasião das lamentações do 9/11. Os mortos das Torres e dos aviões seqüestrados são homens comuns, fazendo coisas normais de seu cotidiano colhidos em circunstâncias anormais.
É difícil abandonar os sonhos e as posições assumidas. Particularmente para pessoas que fizeram disto seu ganha-pão. Passaram suas vidas sendo personalidades de esquerda. De repente estão inseridos em uma sociedade que não os levará simplesmente para detrás de um galpão para desferir um tiro na nuca. A sociedade progrediu. A princípio nega a legitimidade da violência e da tortura. Alguém poderá fazer isto, mas a sociedade como um todo não aceita mais este tipo de arbitrariedade.
Mas eis que neste momento essas pessoas saídas das trevas de suas décadas em spas cubanos, romenos e outros, constatam que seu proselitismo, a empatia da imprensa que não quer ser vista como de direita pois seria algo fora de moda, descobre que a jugular da sociedade está a descoberto e aciona os exércitos que montou na obscuridade. Não interessa o fato de que a sociedade aceitou os princípios essenciais de justiça social já ha muito tempo. Não interessa o fato de que uma boa gestão, a implantação de projetos sólidos lhes poderá colocar na liderança da sociedade por muitos anos. O importante é o poder irrestrito já. Eles precisam viver seus sonhos de assaltantes de banco da Geórgia antes da revolução russa. Precisam comandar o trem percorrendo o interior da Rússia detectando aristocratas e contra-revolucionários e executando-os. Querem viver os sonhos de seus dezoito anos. E para tanto se aliaram à pior escória da Colômbia, de Cuba, Venezuela, dos morros cariocas e das penitenciarias paulistas.
Mas não esqueçam. Seus oponentes também tem sonhos icônicos. Sonharam ser Roy Rogers, Gene Autry, John Wayne, Davy Crocket, Daniel Boone e outros. O homem comum tem mais uma característica. Empurrado contra a parede defende os seus com unhas e dentes. Se adapta. Transcende.
Lembremo-nos de Varsóvia 1944! Lembremo-nos de Budapest 1956!


Editado por Adriana   às   7/02/2006 11:07:00 AM      |