Por Alfredo Guarischi(*)
Os Serviços de Emergência (SE) estão à beira de um colapso. Isto ocorre tanto na rede pública como privada. A espera para receber tratamento é epidêmica. As ambulâncias vagam por horas em busca de um hospital para deixar (“desovar?”) os pacientes. Nas salas de emergência – superlotadas não é infrequente dias de espera, até ser possível uma internação adequada, num CTI, quarto ou enfermaria. A falta de especialistas para atender os pacientes críticos, de maneira segura e eficiente, está contribuindo para o caos. A solução destes problemas pode custar bilhões de reais e há necessidade de uma Agência ou Secretaria Federal voltada especificamente para coordenar um grande sistema, que envolva também os estados e municípios. Qualquer um pode necessitar de atendimento de emergência, principalmente com o aumento constante da violência urbana. Em caso de uma catástrofe não existe um plano previamente testado para atendimento de um grande número de vítimas. Os exercícios de simulação, são esporadicamente realizados – principalmente em aeroportos. Isto é insuficiente. A porta dos SE nunca fecham. Os pacientes chegam a qualquer hora, em número imprevisível, todos os dias e todas as noites. Estes serviços não são lucrativos, pois grande parte dos pacientes atendidos não tem plano de saúde, e os que possuem,com freqüência, não têm direito ao atendimento no primeiro hospital. A batalha para a transferência à unidade de saúde determinada pelo plano de saúde ou a qual tem direito – não obrigatoriamente a mais adequada - é penosa e longa. Vidas podem ser perdidas e hospitais ou profissionais perdem milhões, pois o não atendimento é crime de omissão de socorro. Em 2203 mais de meio milhão de ambulâncias foram desviados do caminho para os quais normalmente levariam os pacientes. Em 2004, 70 por cento dos hospitais urbanos declararam, pelo menos uma vez, a incapacidade de receber novos pacientes. Pacientes “internados” nos corredores, aguardando leito, por pelo menos oito horas, ocorre em 20 por cento das emergências. Nas áreas rurais e subúrbios faltam especialistas, o que dificulta um atendimento ideal. O ambiente tenso - sobre constante pressão – e a luta incansável contra a morte, contribui muito para os resultados inadequados. O número de mortes causadas pelo atraso no tratamento ou falta de especialistas é desconhecido, porém não deve ser pequena. Embora a vasta maioria dos pacientes em SE não sejam vítimas de trauma, mais da metade necessita atendimento imediato, em menos de uma hora. A regionalização do atendimento é necessária, assim como o treinamento constante (especialização) das equipes, hoje composta, quase sempre, por jovens profissionais. Os experientes estão a cada dia menos motivados a este árduo e mal remunerada missão. Existe um grande desconhecimento do que a população sabe ou pensa que sabe da realidade caótica dos serviços de emergência. Esta situação que descrevi se refere aos EUA e foi baseado no artigo publicado em 15 de junho, no The Washington Post. Este país, de 1993 a 2003, fechou 425 serviços de emergência, perdendo 200.000 leitos, em 700 hospitais. Este terrível diagnóstico da medicina americana, deveria ser visto como um bom aviso do que pode está acontecendo por aqui. Em nossas grandes cidades, o número de mortos e feridos decorrentes de trauma, é maior do que o de qualquer das últimas guerras que os EUA esteve envolvido. Nossas autoridades da saúde, nomeadas pelos governantes, ainda brigam pela paternidade dos mosquitos. Há até quem ache que o recente episódio dos vampiros e sanguessugas foi apenas um desvio de conduta, e não um crime. É necessária uma completa reformulação no orçamento público, nas licitações e punição efetiva dos culpados, em todos os níveis. No Brasil basta ligar a TV ou ler algum jornal para confirmar o colapso de nossas emergências. Os pacientes continuam sem receber o sangue perdido, subtraído por vampiros e sanguessugas, restando apenas o suor dos profissionais da saúde. A sobrevivência dos pacientes depende de abnegados profissionais que clamam, como os pacientes, por socorro.
(*) Alfredo Guarischi, Médico Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões.
Editado por Adriana às 6/29/2006 12:01:00 AM |
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