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A SAÍDA DO MINISTRO ROBERTO RODRIGUES, VERSÃO LEITÃO
Por Ricardo Arioli

A economista da Rede Globo, Miriam Leitão, especula que o ministro da Agricultura Roberto Rodrigues acabou pedindo demissão porque não estaria mais agüentando a pressão dos agricultores e seus representantes, mesmo após diversas concessões do governo aos seus pedidos.
Esta versão não se sustenta. Vejamos por que:
- A economista diz que o ministro vinha sofrendo hostilidades onde quer que fosse. Na verdade, quem sofreu hostilidades não foi a pessoa do ministro, mas o governo que ele representava.
- O ministro Roberto Rodrigues sempre foi prestigiado pela classe agrícola, pois tem uma história de serviços prestados à agricultura brasileira que não foi nem será esquecida, além do fato de ele próprio ser agricultor.
- É normal que as “pressões” dos agricultores e de suas lideranças (bancada ruralista, CNA, Associações, Sindicatos) encontrem eco no Ministério da Agricultura, que deve, sim, ser o interlocutor dos agricultores, assim como outros ministérios representam outros setores da economia brasileira. Ainda mais num país que não tem Política Agrícola, apesar da agricultura ser o carro-chefe de sua economia e a atividade que mais gera empregos. Se o ministério fosse representar a Política Agrícola do governo, simplesmente não teria o que representar.
- Os agricultores, através de “pressões”, pretendem que nosso país - de vocação agrícola incontestável e temida por muitos - finalmente passe a ter uma Política Agrícola condizente com seu potencial e com o que isso representa não só na economia nacional, mas também na economia mundial, para o bem de todos os brasileiros.
- Uma Política Agrícola que atenda as exigências mínimas para que a produção possa ser mantida ao longo do tempo sem sobressaltos e crises (Seguro Rural, Preço Mínimo de Garantia, crédito suficiente, oportuno e de custo compatível com a atividade), contribuirá em muito para o desenvolvimento do país e certamente diminuirá as “pressões” dos agricultores sobre qualquer ministério.
- Em todo o país minimamente desenvolvido, onde algum Planejamento Estratégico seja executado, considera-se a produção de alimentos uma questão de Segurança Nacional. Aqui no Brasil, a questão de produzir alimentos fica por conta da vontade dos agricultores em plantarem novamente a cada ano, e de multinacionais que resolvam financiá-lo.
- A falta de crédito oficial suficiente leva os agricultores a tomarem recursos em outras fontes, como tradings e fabricantes de insumos, a um custo absurdamente mais caro. Estes empréstimos garantem a festa no balanço destas empresas a cada final de ano agrícola. Afinal, se o risco é grande, o custo do dinheiro tem que ser maior.
- A falta de um seguro agrícola obriga os agricultores a arriscarem tudo a cada ano, como jogadores compulsivos em um Cassino, apostando tudo a cada rodada. No caso de um desastre climático, alguém terá de pagar os prejuízos.
Foi para mudar tudo isto que o agricultor e líder Roberto Rodrigues assumiu o ministério da Agricultura do governo Lula. Traduziu seus objetivos em seu discurso de posse, citado no discurso de despedida.
É óbvio que não cumpriu suas metas. Certamente não lhe faltou empenho, credibilidade, conhecimento, competência e apoio da classe agrícola para cumprí-las. Saiu, porque lhe faltou apoio do governo Lula.
Foi enganado pelos seus interlocutores dentro do governo várias vezes:
- Em 2004, num discurso para produtores mobilizados no Tratoraço, em Rio Verde (GO), anunciou medidas que não aconteceram.
- Em Maio deste ano, anunciou “medidas estruturantes de longo prazo” que poderiam baixar o custo de produção e adequar a agricultura aos novos patamares cambiais (seria a desoneração tributária dos insumos e máquinas agrícolas?). Há uma semana, teve que voltar atrás, noticiando que as tais “medidas estruturantes” tinham ficado para o próximo governo...
Isto sim, foi a gota dágua. As portas do governo, se fecharam para o ministro Roberto Rodrigues e consequentemente para os produtores rurais brasileiros. Não havia mais o que fazer.
A Política Agrícola, tão necessária ao país, fica para outra hora. Na visão do governo e da Miriam, já nos deram demais.
Depois de tantas promessas não cumpridas pelo governo Lula, em resolver o que realmente interessa, nem o ministro agüentou mais. E saiu.
E você?
Vai continuar produzindo e arriscando novamente, para que pessoas como a economista Miriam Leitão questionem o seu árduo trabalho, cada vez que vem uma crise e você precise de ajuda?
Vai continuar trabalhando, gerando riquezas para muitos, mas ficando sem nada no final, para que continuem a reclamar (de barriga cheia!) das migalhas que o governo te dá?
Vai plantar para sustentar o FOME ZERO, e ajudar a reeleição de um governo que põe o boné do MST, ao invés de ouvir as legítimas demandas da classe produtora do país?
A escolha é sua. A hora de escolher é agora.
Se decidir plantar, não esqueça que há outro risco a avaliar: o risco de ser ENVERGONHADO, pela economista Miriam Leitão, no horário nobre da TV, com toda a sua família sentada na sala.
Prepare suas explicações.


Editado por Adriana   às   7/03/2006 05:00:00 PM      |