Por Augusto Nunes no Jornal do Brasil
Como um técnico de futebol que, para garantir a vantagem obtida no primeiro tempo, mantém o time no vestiário até o fim do jogo, o alto comando do PT decidiu que a campanha de Lula será vitoriosa se não houver campanha. A idéia, grávida de audácia, nunca foi testada em lugar nenhum. Mas nada parece excessivamente ousado para o partido que inventou o mensalão.“Os 10 mandamentos da reeleição”, esse é o título da receita para o triunfo. Poderia ter sido “Cartilha do Salto Alto”. Ou “Manual do Autista”. Algo assim. A leitura do documento reproduzido ao lado é indispensável aos interessados em saber o que pensa o PT do candidato à reeleição e do povo brasileiro. O presidente é uma ramificação da mesma tribo dos limítrofes à qual pertence o eleitorado.O segundo mandamento, por exemplo, informa que Lula manterá distância de áreas conflagradas por disputas entre amigos. Ficarão fora do roteiro os grandes Estados, como São Paulo e o Rio de Janeiro. E também as províncias menores: por que perder tempo com irrelevâncias?.O terceiro e o quarto mandamentos são obedecidos há três anos e meio: Lula odeia encontros com jornalistas independentes. Depois da conversa com a seleção de Parreira, desconfia de que todo interlocutor é é um jornalista disfarçado. E que Larry Rother, em inglês, significa Ronaldo.O sexto tópico deve ter entrado na lista para completar o decálogo. Lula enxerga tudo em cor-de-rosa, incluídos a própria figura e o governo que chefia. O quinto mandamento oficializa o estilo do presidente. Pequenos problemas ou grandes complicações são assunto para ministros.O Itamaraty se esqueceu de montar um plano para o resgate de brasileiros isolados no Líbano? O chanceler Celso Amorim que invente uma explicação qualquer. A Marinha não dispõe de um navio-transporte que sobreviva à viagem para o Oriente Médio? Procurem o gabinete do ministro da Defesa e se acertem com o marechal-de-terno Valdir Pires. A companheirada andou roubando demais? Tentem o guichê de Márcio Thomaz Bastos, advogado-geral de pilantras federais.A campanha sem campanha liberará o candidato para visitas de cortesia aos redutos eleitorais que lhe têm garantido a vantagem nas pesquisas: os grotões nordestinos que sempre votaram nos severinos, inocêncios e suassunas. Lula, quem diria, hoje reina no Brasil dos sem-cabeça.