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A PÁTRIA DE CHUTEIRAS

por Giulio Sanmartini
Quando o dramaturgo e irônico cronista Nelson Rodrigues, durante as Copas do Mundo de futebol classificou o Brasil, como a “pátria de chuteiras”; pelo fato de jamais ter sido comunista (muito pelo contrário, sempre mostrou-se contra) foi olhado com desdém pelos “intelectaulóides” e rotulado de ufanista e reacionário anacrônico. O comunismo acabou, mas frase está e continuará viva para a posteridade. A cada Copa o Brasil é sempre e cada vez mais “a pátria de chuteiras”.
A Itália não é algo fácil de entender. Não existia como nação de 476 a 1866, era um conjunto de pequenos reinos, grã ducados, ducados e repúblicas independentes entre si, até serem unificados como um único país por Cavour e o rei Vittorio Emanuele II. Todavia essa unificação não resolveu o problema da rivalidade entre as regiões, cada pequena cidade tem seu dialeto próprio e a cidade vizinha é considerada no mínimo uma concorrente.
Outra coisa interessante é que, nos dez anos que vivo aqui, jamais encontrei alguém que tenha sido fascista ou tenha tido ascendentes fascistas, todos foram contra Mussolini e o seu regime, os mais velhos foram partizans que lutaram nas montanhas contra o ditador. Quando falo sobre os 300 mil camisas pretas (fascistas) que desfilaram na praça principal de Belluno para homenagear Mussolini que estava visitando a cidade, desconversam e fingem não ouvir.
O partido comunista sempre foi muito forte na Itália, o maior da Europa em um país fora da influência Soviética. Todos os sinais de patriotismo sempre foram desdenhados, cantar o hino nacional? Nem pensar, ou fazê-lo demonstrando desprezo com gestos obscenos, o que vale é a Internacional, a mais famosa canção socialista e comunista, que deveria ser cantada (como ainda fazem agora os saudosistas) com fervor religioso. Nem se falar da bandeira tricolor, porcaria. Até hoje nas centenas de manifestações, passeatas e greves, os participantes carregam todos os tipos de bandeiras, da China comunista, da antiga União Soviética, da Palestina, do Afeganistão, dos sindicatos, das centrais de trabalhadores, do arco íris que representa a paz, mas nada da nacional
Ontem 9 de julho, antes da final da Copa do Mundo que foi disputada entre a Itália e a França, o povo invadiu as praças desde muito cedo, eram centenas de milhares. No Circo Máximo de Roma 500 mil pessoas, pouco menos na praça do Plebiscito em Nápoles e na praça de Matriz de Milão, das outras grandes cidades nem sei, pois foram somente aquelas acima as exibidas na televisão. Todos, mas todos mesmo, agitavam desfraldada a tricolor italiana; era um contagiante mar vermelho, branco e verde.
A Itália do patriotismo ironizado cantava Mameli, apelido dado do hino nacional, que na realidade se chama Fratelli d’Italia, (Irmãos da Itália)) a plenos pulmões, agitando freneticamente suas bandeiras, tinha calçado as rodrigueanas chuteiras e quis a sorte, que no final fosse campeã.
Viva a Itália de chuteiras!


Editado por Giulio Sanmartini   às   7/10/2006 05:12:00 PM      |