por Carlos Chagas na Tribuna da Imrensa BRASÍLIA - É de que se trata de um operário como centenas de milhares o principal argumento para justificar a reeleição de Lula. Levantado pelo PT, por cientistas políticos e observadores da sucessão, o raciocínio suplanta os demais na justificativa de por que o chefe do governo tem todas as condições para conquistar o segundo mandato. "Afinal, Lula veio de baixo, continua a ser um de nós e governa para nós", dizem os eleitores prestes a votar nele. Com todo o respeito, não é bem assim. Claro que as origens são essas. Retirante, menino que passou fome em Pernambuco e em São Paulo, líder sindical empenhado na melhoria das condições de vida do trabalhador, fundador do PT, candidato derrotado três vezes à presidência, afinal eleito na quarta tentativa, sem tirar nem pôr Lula se enquadra no modelo. Mas mudou muito. Primeiro por ter esquecido seu passado e, uma vez no poder, aderido ao modelo econômico das elites. Apesar de sua política assistencialista que beneficia milhões com o Bolsa-Família, sua gestão beneficia muito mais os especuladores e os bancos. Optou pela atividade financeira em vez da atividade produtiva. Tem mais. Em sua vida pessoal, percebe-se agora na leitura de sua declaração de bens, o presidente Lula em nada se parece com um operário. Seu patrimônio chega a R$ 839 mil, entre três apartamentos em São Bernardo, um no Guarujá e aplicações em bancos, fundos de investimento e ações. Nada haverá que criticar. Afinal, vivemos num regime capitalista. Ganhar dinheiro não é crime, sequer especulando. Chega a ser virtude, para quem consegue. O problema é que se os trabalhadores pretendem eleger alguém como eles, a conta não fecha. Que metalúrgico dispõe de mais de R$ 800 mil de patrimônio e quatro apartamentos? Milagre da multiplicação Em outubro, estará sendo reeleito um capitalista, alguém que se continuar assim poderá multiplicar outras vezes o seu patrimônio e, quem sabe, no futuro, até fundar um banco. É claro que um presidente quase não enfrenta despesas pessoais. Mora e come de graça, tem verbas para roupas, não gasta gasolina em seus deslocamentos nem compra passagens aéreas quando viaja. Um médico do governo trata de sua saúde e a de sua família. Seu salário de R$ 8 mil pode ir integralmente para contas bancárias e investimentos. Admita-se, também, que como presidente do PT fazia jus a mesada razoável, da mesma forma como quando foi deputado federal e recebia vencimentos polpudos. Nada a opor diante desse gênio das finanças que em três anos e meio duplicou seu patrimônio, em 2002 calculado em R$ 400 mil. O único reparo a fazer está em que o presidente Lula não é igual aos seus eleitores, em termos pessoais. Chegar aonde chegou, política e materialmente, só um em dezenas de milhões...
Editado por Giulio Sanmartini às 7/10/2006 01:01:00 PM |
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