Por Roberto Pompeu Toledo na Veja O que esperar de sua gestão e outras observações sobre a candidata que mais subiu nas pesquisas. Vai ser a maior vitória da calça jeans e do rabo-de-cavalo em todos os tempos. Talvez ela também calce um par de tênis ao subir a rampa do Palácio. No discurso de posse, atacará os "parasitas do Banco Mundial" e os "gigolôs do FMI". Investirá contra os "delinqüentes da política nacional" e os que se lambuzam no "vergonhoso balcão dos negócios sujos". Alguns estarão presentes. Balançarão a cabeça, em sinal de aprovação. Dirá que em seu governo não haverá lugar para "gente falsa, cínica". Lembrará que, "em gente ordinária", ela "vomita em cima". Alguns desviarão ligeiramente a cabeça, como a desviar-se de algo que cai do alto. Sorrirão em seguida. No dia seguinte, a Bolsa de Valores de São Paulo fechará em baixa de 82%. O novo ministro da Fazenda, Bruno Maranhão, dirá que esse efeito já era esperado. No mesmo dia, anuncia-se a revogação das privatizações. A das telefônicas será a primeira. Consumada, o efeito imediato é 80% das linhas amanhecerem mudas. A ministra das Comunicações, Luciana Genro, dirá que é melhor assim: a população voltará a se comunicar pessoalmente, com efeito sem dúvida benéfico para as relações humanas. A inflação dispara. Em três dias, atinge os 250%. O governo decreta o congelamento de preços. Os gêneros alimentícios desaparecem dos mercados. O governo ameaça apreender bois no pasto. Donas-de-casa saem às ruas batendo panelas. Do lado oposto, a frente "estudantil camponesa" pede a radicalização do processo. Um de seus expoentes, João Pedro Stedile, chefe do "Movimento Pol Pot pela Revogação dos Costumes Burgueses (Mopopo)", reclama a transferência da população das cidades para o campo. Falta gasolina. Cessam as atividades, uma a uma. Reúne-se o ministério. Uma ala pede a imediata abolição da propriedade privada, o desmanche das instituições burguesas, a prisão dos inimigos do povo e o justiçamento dos recalcitrantes. A questão é debatida durante dezessete horas. Chega-se afinal à conclusão de que não há condições objetivas para tais providências. "Que outras opções temos?", pergunta a presidente. O ministro Babá, da Casa Civil, diz que só vislumbra duas alternativas. "Uma é a renúncia", começa. A presidente faz cara de espanto. "E a outra?" Babá respira fundo, hesita. "A outra", diz, enfim, baixinho, "a outra... é pagar mensalão". A presidente fecha os olhos e afunda na cadeira, desalentada.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/23/2006 01:43:00 AM |
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