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POR QUEM OS SINOS DOBRAM ?
por Paulo Ramos Derengoski na Tribuna da Imprensa
Muitos da nossa geração de jornalistas - o Marcos Faerman, Marco Aurélio, o Pilla, o Tarso, entre outros - se formaram lendo os autores da chamada geração social norte-americana: Theodore Dreiser, Upton Sinclair, John dos Passos, Steinbeck, Richard Wright, Erskine Caldwell, James T. Farrel e o maior de todos, que foi Ernest Hermingway.
Antes de ser escritor, Hermingway foi jornalista. Repórter aos 18 anos do "Star" de Kansas City, logo se transformou em correspondente internacional da cadeia Hearst e em 1921 (aos 22 anos) entrevista para o "Star Weekly", Mussolini e Clemenceau. Talvez por ser obrigado a mandar suas reportagens em telegramas, adquiriu desde cedo um estilo conciso, suscinto. Mas um estilo com grande clareza. Ao contrário de textualizadores de nossos grandes jornais e revistas, que procuram ser "enxutos" e "objetivos". Mas não o são justamente por não terem clareza, luminosidade, lucidez. frase curta, parágrafo de 12 linhas não quer dizer "objetividade".
Hermingway era claro porque escrevia sobre o que conhecia. Ele sabia que não existia imaginação pura em literatura. Ninguém extrai idéias do nada. Muito menos jornalistas que ficam como minhocas em garrafas, só nas redações, um sugando o outro.
Admirador de Mark Twain, de Sthendal, de Jack London, sua preocupação na vida foi ler, ouvir, comer, dormir, viajar, pescar, observar. Ver a neve, a chuva, os filhos, uma mulher, outra mulher, alguns amigos, estradas, campos sem fim, rios límpidos, montanhas, nuvens, guerras, bares, cidades, mares. Ele dizia que a literatura é uma arquitetura verbal - e não uma decoração de interiores...
Seus livros correram mundo. Contos de impacto visual, como "Os Assassinos". O livro da geração perdida, "O Sol Também se Levanta". O trágico e grandioso "Adeus às Armas". O social "Ter e Não Ter", criticado justamente por ser de esquerda. O clássico dos clássicos "Por Quem os Sinos Dobram". E tantos outros! E o maior de todos: "O Velho e o Mar".
"O Velho e o Mar", uma história tão simples. Vagando no grande, forte e belo mar do Caribe (o mar mais bonito do mundo) um velho pescador, depois de semanas, trava uma luta terrível, de dois dias, com um grande peixe. E vence! Amarra-o no costado do barco e volta para casa. Mas quando chega na praia os tubarões haviam comido tudo, só restava o esqueleto aos pedaços...
É a parábola definitiva sobre a condição humana: nós lutamos, para no fim da vida perder tudo. Até porque tudo é nada...
Alcoólatra, precocemente envelhecido aos 62 anos,
Hermingway, como o pescador de "O Velho e o Mar" marchou para o fim aos pedaços. Ele sabia que o alcoolismo não é uma doença da alma nem do espírito, mas uma tentativa de "encantamento" da realidade vivida. Alucinado, com manias persecutórias, achando que muitos à sua volta eram agentes do FBI, resolve pôr fim à própria vida da mesma maneira que seu pai - o grande amigo da infância nos campos livres de Illinois: um tiro nos miolos...
É isso aí: não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti.


Editado por Giulio Sanmartini   às   7/17/2006 04:34:00 AM      |