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O IMÉRIO CONTRA-ATACA
por Onofre Ribeiro
Passei a última semana em Salvador, onde fui visitar minha nora Daniela e meu neto Luka, e acabei encontrando-me com meu filho Fábio, minha nora Aline e o seu filho, o neto Enzo, que moram em Aracaju. Tive tempo para refletir e assistir mal-e-mal os noticiários. Impressionou-me profundamente a enorme legitimidade política conquistada pelo PCC.
Li e refleti. Coloco a seguir algumas reflexões domingueiras:
1- a erosão do Estado favorece o tráfico de drogas, os jogos de azar, os negócios da prostituição, o contrabando, a falsificação de produtos industriais, o roubo de cargas. Tudo isso existe, porque há um forte mercado fora do sistema comandado pelo PCC. Logo, o sistema criminal, tornou-se um sistema organizado e tornou a sociedade sua refém;
2- o governo do Estado de São Paulo e o governo federal discutem entre si quem é o responsável pela violência. De um lado o governo estadual acusa as questões sociais como causa, e o governo federal acusa o sistema penitenciário estadual. Ambos têm grande culpa e deveriam se envergonhar das suas explicações à sociedade;
3- os polícias estão sendo vítimas. Colocam-se como vítimas. Mas se esquecem de que têm sido algozes muito cruéis dos presos. Não por tê-los prendido, mas das torturas e dos maus tratos nas cadeias. Dominados nessa ciranda desumana, os presos se organizaram e agora a polícia é sua refém. Os policiais choram, esquecendo-se de que construíram um regime que se voltou contra eles;
4- as polícias e o sistema prisional tiraram vantagem enquanto puderam sobre os presos confinados e ajudaram a construir um sistema politizado e muito mais organizado do que as próprias polícias.A prepotência policial tem sido muito burra e não viu ou fez de conta que não viu os presos se organizarem contra eles, contra as polícias e contra o Estado. A sociedade entra de gaiata na história;
5- A exclusão social criou esse feudo que agora divide o país em três: o Estado, impotente. Os presos em condição de mando político e de organização do momento próprio. E a sociedade, que paga impostos e acaba vítima da opressão gerada pelas exclusões, que são conseqüência da incompetência da gestão pública;
6- A burrice política e a prepotência policial e prisional indicam que se deve tratar os presos com violência máxima, como da outra vez, em maio. Violência só gera mais violência. Violência é solução de quem não tem solução;
7- O Estado precisa discutir com os presos e com a sociedade o que fazer com esse apartheid social. Não se pode matar os presos. Nem prendê-los novamente dentro de uma segunda ou terceira cadeia;
8- Não adianta medidas paliativas, porque os presos têm uma fonte inesgotável de fornecimento de jovens para a causa. A juventude excluída odeia as polícias por sua truculência, a justiça inoperante e injusta. Por isso, não faltarão jovens para incendiar ônibus e atacar prédios, postos policiais e matar quantos policiais seja necessário;
9- Não se trata de caos. Trata-se pura e simplesmente de falta de capacidade de gestão pública e social. O mais, é consequência disso. Inclusive as desculpas esfarrapadas contadas à sociedade.



Editado por Giulio Sanmartini   às   7/17/2006 04:16:00 AM      |