Por Adriana Vandoni Ontem a história recente da nossa democracia perdeu o pai da emenda das Diretas, nas época um jovem deputado que apresentou a emenda que acabou levando milhões de brasileiros às ruas para resgatar o nosso direito de decidir diretamente quem governaria nosso país. Faleceu, no início da noite passada Dante de Oliveira, autor da emenda das Diretas Já. Um conterrâneo, ex-ministro da reforma agrária e ex-governador. Um líder político no meu Estado. Difícil assimilar essa morte, como tantas que ocorrem inesperadamente. Conhecia-o desde muito tempo, por esta é uma cidade provinciana onde todos são conhecidos ou parentes de parentes de parentes. Mas apenas de uns tempos pra cá passei a ter um maior contato com ele, após ter me filiado ao seu partido e ter participado das negociações para as próximas eleições. Era uma pessoa alegre, carismática, desejosa de resgatar a sua história, iniciada em banquinhos que colocava em praças públicas, onde subia e discursava para os que passavam e as pessoas o davam ouvidos, claro, escutavam palavras incomuns em um momento em a palavra falada e escrita ainda era limitada. A emenda das Diretas Já, tornou-o conhecido nacionalmente, e daí foi um pulo para ser eleito prefeito de Cuiabá e ser transformado em líder por aproximadamente duas décadas. Estive no hospital desde o fim da tarde e quando me disseram que havia tido uma sutil melhora, saí para jantar. Só depois fui saber que naquele momento ele estava tendo duas paradas cardíacas. Não tinham se passado ainda dez minutos da minha chegada ao restaurante quando recebi a notícia que ele havia morrido. Dante foi Ministro da Reforma Agrária de Sarney e governador por dois mandatos, mas por um erro estratégico perdeu a última eleição. Passou quatro anos tendo a sua imagem desconstruída pelos atuais ocupantes do governo. Ficou quieto e sem espaço, “sem Tribuna”, como ele falava. Claro que cometeu erros durante seu mandato, alguns graves. Mas cometeu acertos indiscutíveis que a história saberá dar valor. Sua figura, postura, tom de voz, eram tão fortes que não é possível acreditá-lo consumido por algumas bactérias que devastaram seu corpo tão inesperadamente e em tão pouco tempo. Conheci um Dante sem poder, brincalhão e provocador, o Dante da padaria, do Bar do Azeitona... Sua morte repentina nos faz refletir que não é apenas o poder que é efêmero. A vida é assustadoramente efêmera.
Editado por Adriana às 7/07/2006 07:48:00 AM |
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