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AS MILÍCIAS
Por Ralph J. Hofmann

Akira Kurosawa, John Ford, John Huston, e muitos outros já contaram a história das milícias do Rio de Janeiro, como também o fizeram Louis L’Amour, Bret Harte, A.B. Guthrie e algumas lendas chinesas e japonesas.
Numa terra selvagem, onde quem manda é a força, onde o xerife ou o mandarim se limita a cobrar os impostos mas não se preocupa em controlar os desmando de gangues que roubam gado, trapaceiam nas cartas, eliminam rancheiros, atacam donzelas, aparece um forasteiro, ou um grupo de forasteiros (cabalisticamente desde Kurosawa tendem a ser sete).
Esses forasteiros podem ter raízes na comunidade ou não, podem ser gente finíssima, ou em algum momento foram tão bandidos como a gangue local, porém por motivos variados decidem que o local não pode continuar como está.
Abatem a tiros, os bandidos, encorajam a comunidade a se defender e as forças do mal são derrotadas. Normalmente, na medida que a autoridade do povo é restabelecida os forasteiros montam em seus cavalos e cavalgam rumo ao sol poente.
O problema é quando a estrutura que cerca essa comunidade também está absolutamente corrompida. Para que sol poente se dirigirá nosso paladino? Quando virar as costas o que restará da justiça que implantou. O líder que construiu a escolinha e a igreja do lugar vai continuar vivo? O pistoleiro encomendado para manter a ordem na cidade não vai se tornar outro déspota?
É o drama das milícias. Ruim ter de depender de pessoas que não tem status oficial de mantenedores da lei. Pior sem eles. São os pistoleiros de aluguel importados. Possuem habilidade, conhecimento estratégico, sabem ler os sinais, as pegadas dos hostis, aprenderam a ser organizados. Parecem a turma do Charles Bronson em alguns de seus filmes. Geralmente (nos filmes) são veteranos de guerra que confiam uns nos outros. Policiais do Rio são veteranos de guerra. De guerra contra os pirralhos vendedores de droga armados de metralhadoras. Na verdade as milícias provam que o treinamento ministrado pelas forças policiais do Rio é excelente. Apenas falta estímulo para aplicá-lo. Se aplicarem o que sabem dentro da estrutura policial provavelmente irão ser castigados, processados e presos.
O que está surgindo é uma série de pequenos países nos morros do Rio. Pequenas Andorra e San Marino. O poder público passa a ser exercido pelas milícias. Essas cobram impostos para manterem essa administração. Para cá da entrada da favela existe outro país chamado Brasil. A parte social é executada por ONGs de dentro da favela com dotações de fora da favela que eqüivaleriam a uma ajuda de organismos internacionais.
É conseqüência do falso federalismo brasileiro. O poder imperial de presidentes e governadores exanguinou as forças dos governos locais. No Rio isto chegou ao ponto de uma tácita secessão ante governos inócuos que se preocupam com teorias, oferecem mais 20 milhões de dólares ao Larápio Boliviano mas regateiam dinheiro para resolver problemas locais, salvo doações paternalistas que garantam eleitorado ao líder.
A taxação exercida pelas milícias tem um mérito que nenhum imposto federal possui. Aqui se cobra e aqui se gasta. O pagador da taxa enxerga os resultados de seus impostos.
Todos os outros impostos pagos no Brasil parecem vaporizar-se ante nossos olhos.


Editado por Ralph J. Hofmann   às   2/13/2007 10:25:00 AM      |