Por Laurence Bittencourt Leite
Uma das coisas mais fáceis nesse país, em especial no Nordeste, Jesus, é elogiar políticos. Como gostam. E fazem isso se pautando na democracia, quando deveria ser o contrário. Mas a questão que está em jogo não é a democracia. E muito menos se se deve ter ou não político. O que se discute, ou se deve discutir, penso eu, é a quantidade de políticos e mais ainda, a qualidade da nossa classe política. E o que temos é uma quantidade enorme de político sem necessidade alguma e pior, uma classe política de péssima qualidade. Volte a repetir: nesse país não se deve ou deveria discutir mais a questão da democracia. Não é isso que está em jogo. Esse é um assunto encerrado ou deveria ser a meu ver. Se bem que com o PT à frente nunca se sabe se a democracia é para valer. Mas vou citar alguns exemplos para mostrar que a quantidade é algo monstruoso, alarmante nesse país. Fiquemos no chamado Congresso nacional. Esse ano, só esse ano, a Câmara federal irá gastar 3 bilhões de reais, e o senado 2 bilhões e 700 milhões de reais. Isso para muita gente não tem importância alguma. Dá mesma forma que a morte de uma criança barbaramente assassinada também não. Mas deveria ter. E pense bem: como 694 pessoas, que representam a quantidade de deputados federais mais a quantidade de senadores, gastam em um ano, um total de 5 bilhões e 700 milhões reais, mais do que um orçamento (o que se arrecada) de um Estado como o do Rio Grande do Norte que tem mais de 2 bilhões de habitantes? Expliquem isso? Se isso não for um verdadeiro absurdo, o que seria então? Mas não nesse país, aqui, aqui tudo é normal. Se rouba e ninguém vai preso. Se mata e fica tudo por isso mesmo. Vou oferecer outro dado. O sujeito que trabalha a sol e pino 35 anos de sua existência para ter direito a uma aposentadoria de 350 reais. E, no entanto, um senador da república (imagine!) se aposenta após um único mandato. Um deputado após três mandatos e um governador após um dia de trabalho, ou seja, após o dia da posse. Pode isso? É um escárnio para com o país. E ainda são eles que fazem as leis. Como então defender isso? Como defender 694 pessoas e ficar contra uma sociedade inteira? Logicamente que não há explicação. As explicações são as mais escusas. Mas tudo bem. No fundo vendo e acompanhando esse descalabro de corrupção e bandidagem patrocinado e feito por essa classe política, me vem à mente que eles deveriam estar defendendo a democracia (que seria o respeito e o cumprimento a lei), mas eles estão enterrando. E alguns ainda se espantam ante a barbárie que acometeu o garoto de seis anos, João Hélio, no Rio de janeiro. E em país serio, é possível se dizer que existe corrupção sim, como querem dizer os defensores, só que a lei se faz presente e põe na cadeia. Essa é a diferença. E aqui? Como então defender essa qualidade de nossa classe política? Alguém poderia dizer talvez num gesto mais apressado: mais eles não entendem, não tem conhecimento para tanto. Pois que tenham. No mínimo essas coisas têm que ser debatidas, afinal, numa sociedade em que as explicações estão todas prontas, onde normas são aceitas sem discussão, a tendência é, no mínimo, estagnar. Já onde existe o questionamento crítico, existe um principio interno de transformação. Pelo menos em tese. Mas no fundo eu acho que eles não querem entender, porque vivem das migalhas dos políticos. Outros, nem tanto de migalhas e sim de muito dinheiro. Mas quem padece é a população. E lendo o romance do prêmio Nobel de literatura de 2006, o turco Orhan Panuk, “Neve”, encontrei uma frase que cai como uma luva para a nossa condição, embora eu ache difícil com esse tipo de mentalidade que se mude nossa condição: “uma pessoa pode lastimar a sorte de um homem que passa por dificuldades, mas quando toda uma nação é pobre, o resto do mundo imagina que todo seu povo deve ser desmiolado, preguiçoso, sujo, e um bando de imbecis grosseiro. Em vez de inspirar piedade, esse povo provoca gargalhadas. Tudo passa a ser uma piada: sua cultura, seus costumes, seus usos”. Isso pode até ser uma bobagem, mas pense. laurencebleite@zipmail.com.br
Editado por Giulio Sanmartini às 2/13/2007 05:17:00 AM |
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