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É UMA VERGONHA
Jarbas Passarinho desabafa sua indignação pela vergonhosa absolvição dos denunciados pelos Conselhos Éticos das duas casas do Congresso.
Fala também do jornalista Boris Casoy, que foi tirado doar por força da coerção dos atuais donos do poder sobre a empresa que o contratara.
Segue discorrendo sobre a vergonhosa situação do Brasil, onde o governo pressiona a mídia, como o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) de Getúlio Vargas, mas e condescendente com todos os peculatários que lhe são aliados

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É uma vergonha
Jarbas Passarinho*
Sinto a falta de ouvir essa expressão de revolta, que Boris Casoy, na televisão, vulgarizou, ao terminar a revelação de um procedimento pessoal antiético ou mesmo amoral, mais freqüentemente de autoria de políticos e de suas agremiações. A vergonhosa absolvição, recente, dos denunciados pelos Conselhos de Ética das duas Casas do Congresso serviria com absoluta precisão ao comentário final de Boris, que, infelizmente, já não aparece na televisão. Segundo entrevista dele à mídia, deduzo que deixamos de ouvi-lo por força da coerção dos donos do poder sobre os da empresa que o contratara.
Os militares, ao editarem o AI-5, impuseram a censura em face da realidade de uma guerra civil não declarada, a luta armada desencadeada pelas guerrilhas comunistas iniciadas em 1967. Em todas as guerras, infelizmente, a liberdade de imprensa sofre restrições, porque, mesmo não intencionalmente, pode proporcionar aos inimigos informações valiosas. Assim foi nas guerras do século 20 e, assim, o presidente Bush pediu à mídia norte-americana que se autocensurasse na luta que trava contra o terrorismo. É fatal que a mídia se revolte com a imposição de censura, que lhe impede cumprir sua razão de ser, garante de uma das mais cruciais liberdades fundamentais: a livre manifestação do pensamento.
A censura não cobriu todo o ciclo militar e não imitou a da ditadura de Getúlio Vargas, em que o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) não só impedia qualquer crítica ao ditador, mas também obrigava os jornais e rádios a louvá-lo. Nenhum órgão de comunicação do pensamento aceita ser censurado, pois perde a sua razão de ser. Por isso, faltou-nos o apoio que tínhamos até então da maioria da mídia. Agora, coage-se quem tinha em Boris um comentador independente. Infelizmente, poucos órgãos da mídia não receiam desagradar ao governo. Quando o fazem, o poderoso Marco Aurélio Garcia adverte com a sutileza de um censor: “Vejam bem o que escrevem.” O presidente, ele mesmo, ainda se queixa do tratamento que esperava - e, segundo ele, não tem - da mídia.
Deixamos, pois, de ouvir de Boris Casoy o seu “é uma vergonha”, quando impedido altivamente de aceitar as condições que mascaravam a dispensa dele. Um dos absolvidos, na Câmara, foi líder do partido de Paulo Maluf. Postergou por quase um ano, servindo-se de pretextos de toda natureza, o recebimento da citação para a oitiva. A manobra teve bom sucesso, como acontece com os que preferem, à integridade, a indecência dos que “vivem da política”, segundo a definição weberiana, ao revés dos que “vivem para a política”. Seu advogado clamava, da tribuna, que não existiam provas, nada obstante até a confissão parcial do denunciado. Mas, se confessasse por escrito, o amigo que lhe quer muito bem já lhe teria dado a solução: “Negue que a letra é sua.” Faltaram poucas dezenas de votos para aprovar a cassação do seu mandato, com a respectiva perda de direitos políticos. Deus o poupe da cardiopatia grave, uma das razões que o levaram a delongar seu julgamento. Que viva muito, pois é uma lição em política.
No Senado, creio que o ex-líder do governo, ao contrário, teve a seu favor a maioria dos votantes. Não constitui propriamente uma surpresa, pois, das dezenas de casos de denunciados, para os quais os conselhos pediram a cassação dos mandatos, somente três foram punidos, entre eles Dirceu, como disse exaltado, no Supremo, o ínclito ministro Sepúlveda Pertence. Ao agradecer a solidariedade de seus pares, o simpático senador argumentou que, rico e dono de várias empresas, não se sujaria com propinas de sanguessuga. É de crer. Mas, infelizmente, a riqueza não é, muitas vezes, um antídoto contra o que o padre Vieira, no Sermão do Bom Ladrão, distingue os que “a pobreza e a miséria escusam ou aliviam o seu pecados” daqueles “de maior calibre” que enricaram. Um destes, deputado do PT, Juvenil (no prenome), posto que abastado, é muito experiente no verbo rapio. Muito bem-sucedido na rapinagem ao ensinar empresários sonegadores de impostos, não passa 48 horas na prisão, de onde não sai por muito tempo o incauto caçador que atirou numa graúna, crime inafiançável.
Adhemar de Barros era rico, mas não se livrou da injúria do refrão popular do “rouba, mas faz”, tão pertinente nos dias de hoje em gente “de maior calibre” nos três Poderes da República. Por vezes até furtam, mas não fazem, como os que se apossaram do R$ 1,7 milhão para compra de um dossiê supostamente comprometedor de um candidato a governador nas eleições de outubro passado, mas não fizeram, flagrados antes de fazer. Não são amadores, prova-o a dificuldade da Polícia Federal de identificá-los passados meses. Tinha Adhemar grande patrimônio e - ironia da vida - foi roubado em US$ 2,5 milhões que uma senhora sua amiga guardava no cofre da residência, no Rio. A eminente ministra Dilma Rousseff, ao que se assegura como verdadeiro, integrava o grupo de revolucionários que praticaram a proeza, pelo bem da causa.
Ao revés, o pobre é louvado por sua honestidade. Se não me engano, disse-o o nosso presidente, quando saudou o pobretão que entregou à polícia um maço alentado de dólares que achou na rua. O pobre pode até ser inocente, mas suspeitado. Como se deu com o caseiro levado à Polícia Federal, suspeito de lavagem de dinheiro. Por que a diatribe? Por duas razões. Uma, política, para silenciar o caseiro, que comprometia o ministro da Fazenda do PT. Petistas da “organização criminosa”, denunciada pelo íntegro procurador-geral, Antônio Souza, fazem-me deixar a frase como está, sem vírgula depois de Fazenda do PT. Eles são os que Vieira, no sermão, disse serem “de maior calibre e da mais alta esfera”.


Editado por Giulio Sanmartini   às   12/13/2006 02:09:00 AM      |