Folha de S.Paulo
Durante as investigações sobre o dossiê antitucano, a Polícia Federal levantou indícios de que Hamilton Lacerda, ex-assessor de Aloizio Mercadante (PT), atuava como lobista junto à Petrobras. Relatório obtido pela Folha, aponta uma série de documentos apreendidos na casa de Lacerda que envolvem a estatal. A PF suspeita que ele tenha praticado "tráfico de influência" na empresa. Segundo a PF, Lacerda é o homem que transportou o R$ 1,7 milhão que seria usado na compra do dossiê. O documento da PF, produzido por um agente da polícia no dia 3 de outubro, lista dez itens diferentes. O de número 10 descreve uma pasta cinza e preta com o logotipo da empresa "Markplan Marketing, Planejamento e Propaganda", contendo uma série de documentos em seu interior.
Antes de especificar o que há na pasta, o agente registra o seguinte comentário: "Estranha-se o fato de que todos os documentos estão de uma forma ou de outra relacionadas à estatal Petrobras". As informações sobre os documentos é dividida em sete subitens, das letras "A" à "F". O primeiro diz respeito a um caderno produzido pela agência sobre o "Projeto Caminhoneiro, Titan da Estrada", segundo a PF, patrocinado pela BR Distribuidora. Dois referem-se a dados cadastrais, bancários e de clientes das empresas "Gianpetro Distribuidora de Petróleo Ltda" e "Solvitech Chemical Distribuidora de Solventes Ltda". O subitem "E" é um e-mail para uma pessoa identificada como "Sr. Hércules". A mensagem é assinada por André Nobre e Izaías Gomes, ainda não identificados pela PF. No terceiro parágrafo do e-mail, Nobre e Gomes dizem o seguinte: "Referente à Petrobras, precisamos de um contato dentro da Petrobras, para abertura de um canal direto com condições de preços e cotas diferenciados". No "F", o agente da PF descreve ter encontrado na pasta a parte de um processo judicial que a empresa "Construtora Pereira de Almeida S/A" move contra a Petrobras. "(...) A construtora pede indenização à Petrobras, por ter a Refinaria Passos em Betim/ MG lançado poluentes contra um terreno de propriedade da construtora (...)", diz o texto do relatório. Em outro ponto, o agente relata o seguinte: "A segunda folha traz um texto com data de 23/05/03 que fala que o valor da indenização calculado pelo perito é de R$ 239,7 milhões", explica. Os documentos apreendidos na casa de Lacerda não foram os únicos elementos verificados pela PF que o ligam à Petrobras. Na análise de seu sigilo telefônico, foram observadas 36 chamadas entre o ex-assessor de Mercadante e a Petrobras, todas no período de negociação do dossiê, entre agosto e setembro. Todas as ligações estão relacionadas ao gerente de Comunicação Institucional da Petrobras, Wilson Santarosa, responsável por um orçamento de aproximadamente R$ 700 milhões, justamente nas áreas de publicidade e patrocínio. A assessoria de imprensa da Petrobras já deu duas versões distintas para os telefonemas trocados entre Lacerda e Santarosa. Na primeira ocasião, em meados do mês passado, a assessoria afirmou que Lacerda queria obter ingresso para o GP Brasil de Fórmula-1, realizado no dia 22 de outubro, mais de um mês depois da última ligação que vincula Lacerda à estatal. A Petrobras patrocina a montadora Willians e, segundo a assessoria, forneceu o ingresso ao ex-petista. Na segunda versão, assessoria disse que Lacerda procurou Santarosa para tentar vender convites de jantares de apoio à candidatura de Mercadante.
Editado por Anônimo às 12/08/2006 08:57:00 AM |
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