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É PARA ONTEM
Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
O presidente Lula deu uma missão aos seus ministros: apresentar propostas palpáveis para cumprir a promessa de crescimento do País. Na reunião da semana passada, o que se ouviu foi um chorrilho de generalidades, todos falando no atacado, ninguém no varejo. Foram mandados de volta para casa com um prazo de 15 para trazerem algo que possa realmente ser colocado em prática a partir de janeiro.
Algumas sugestões são para lá de conhecidas. Desoneração dos setores industriais da carga de impostos, com vistas ao aumento da produção, maior competitividade e, no bojo disto, mais vagas de trabalho. Há também estudos de medidas com vistas a estimular investimentos nos setores de base e, principalmente, fazer com que as Parcerias Público-Privadas (PPPs) deixem de ser apenas uma pretensão.
Lula sabe que isoladamente as coisas não darão certo. A idéia seria constituir um pacote de bondades, pois de nada adianta aumentar a produção sem que seja possível escoá-la. O Brasil hoje, até por culpa do governo, mais parece o personagem principal de "O tambor", de Günther Grass: aquele menino que se recusa a crescer para não ver as realidades do mundo em que vive. Quero dizer com isto que o pé, por exemplo, já é tamanho 40, mas o sapato ainda é número 35.
Ou seja: com as estradas, ferrovias e portos no atual estado de desmazelo, o País continuará sendo deficitário em matéria de custos. Além disso, não havendo um projeto sólido de geração de energia, não se chegará até o final da década sem que haja novo apagão. Os estudos em curso nesta área são todos para depois de 2010, algo que, convenhamos, nada tem a ver com o desejo de crescer a uma média de 5% a partir do próximo ano. Tais gargalos da infra-estrutura são o que mais assusta o empresariado. Uma vez resolvidos é que tornarão a produção competitiva.
Este, porém, é apenas um braço do desenvolvimento. Existe outro, mais sensível, que o governo não tem dado a mínima: o da pesquisa. Para quem tem pretensões de entrar para o G-8 não como primo pobre (a exemplo da Rússia), o investimento em tecnologia tem sido paupérrimo. Que, claro, não vem sozinha, mas num pacote completo. Começa na educação, com a formação de levas e mais levas de técnicos de alto nível, mestres e doutores, cuja principal obrigação será a de formar sucessores e mais mão-de-obra altamente qualificada.
Passa pela criação de pólos, nos quais se desenvolverão produtos que gerarão patentes. Daí então é que se chegará ao marcado de fabricação e exportação de produtos de alto valor agregado. Nesta área, Índia e China - para citar os termos de comparação mais próximos - estão bem adiante do Brasil.
O resto, como essa queda de braço boba entre os chamados monetaristas e os ditos desenvolvimentistas do governo, não passa de disputa de vaidades. Rigorosamente inútil, a menos que Lula continue a estimulá-la apenas com o objetivo de gerar notícia.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/06/2006 04:08:00 AM      |