Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
Há quem ainda se surpreenda com o fato de Lula estar fazendo o toma-lá-dá-cá na composição do ministério. Não se esperava nada diferente, inclusive a colocação de derrotados em cargos do primeiro escalão. Faz parte dos compromissos assumidos pelo presidente na caminhada à reeleição, da mesma maneira que sabe ele que, se quiser governar, vai ter de ceder a este tipo de negociação com os partidos. Tal movimentação de peças leva a crer que a reforma política seja apenas uma vontade e jamais passe disto. Para algumas legendas, as coisas como estão lhes garante imenso conforto. Veja-se o caso do PTB: é governo desde os tempos da redemocratização. Como José Sarney, com Itamar Franco, com Fernando Henrique Cardoso, com Lula, mantém-se fiel a todo e qualquer presidente eleito. Tem uma bancada expressiva no Congresso, capaz de fazer o lastro pender a favor ou contra o Palácio do Planalto.
A questão da fidelidade partidária é algo que também não interessa a ninguém. Todos os governos, sem exceção, incharam partidos de sua base como forma de garantir maioria. Há um imenso contingente de parlamentares que não se interessa em ficar numa única legenda a vida inteira, a menos que com ela garanta a eleição. O ex-ministro Delfim Netto sentiu isto na carne: embora seja um daqueles ditos "parlamentares de opinião" - ou seja, se elege pela atuação no Congresso, não porque faça proselitismo sindical ou política assistencialista -, passou para o PMDB e não conseguiu voltar à Câmara. Enquanto esteve no PP, pelo coeficiente eleitoral sempre garantiu sua cadeira. E teria acontecido o mesmo este ano se tivesse continuado no antigo partido, pois seria puxado pela megavotação de Paulo Maluf. Tampouco a proposta do financiamento público de campanha será capaz de fazer alguém se apaixonar pela reforma política. Sábado mesmo, aqui neste espaço, dei uma pincelada naquilo que foi a Operação Mãos Limpas na Itália. Antes de mais nada, foi a corrida da Justiça contra os parlamentares que tinham arranjado eficientes meios de burlar a lei exatamente do uso do dinheiro público para as campanhas. Aconteceu aquilo que se viu no valerioduto: um imenso caixa dois que enriqueceu partidos e alguns de seus caciques. Até que descobriram um elo fraco na corrente que se rompeu e alcançou até mesmo o ex-primeiro-ministro Bettino Craxi. Por conta de tudo isto, vale sempre lembrar aquilo que Ulysses Guimarães dizia, do alto de sua larga experiência nos bastidores do poder: no Congresso, o mais trouxa desfaz nós calçando luvas de boxe.
Editado por Giulio Sanmartini às 11/09/2006 09:40:00 AM |
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