Clovis Rossi, na FSP
A inauguração da estrada pró-Blairo Maggi, dublê de rei da soja e governador de Mato Grosso, é um compacto do objetivo declarado do Lula-2: ser aceito pelos ricos depois de ter recebido o voto dos pobres. O presidente confessou, mais de uma vez, aliás: "A única frustração que eu tenho é que os ricos não estejam votando em mim. Porque eles ganharam dinheiro como ninguém em meu governo" (entrevista durante a campanha, a bordo de seu avião, relatada nesta Folha por Mônica Bergamo). Note bem a palavra "ninguém". Por mais que o presidente tenha dificuldades com o idioma, não dá para negar que ele está reconhecendo que os ricos ganharam mais dinheiro do que todos os outros, pobres inclusive, no seu governo. Em números concretos: R$ 530 bilhões para remunerar os detentores dos títulos da dívida pública (todos ricos, alguns podres de ricos) e apenas R$ 30 bilhões para o Bolsa-Família, destinados aos pobres entre os pobres. Como é que, assim mesmo, o pobre vota em Lula? O próprio presidente já explicou em junho, ao falar de seu prazer em "fazer política para pobre": pobre quer "apenas um pouco de pão", pobre "não têm dinheiro para ir protestar em Brasília, para fazer passeatas". Já o rico, sempre segundo Lula, quer "bilhão" quando encosta no governante. O pobre já entregou, na forma de voto, a contrapartida ao "pouco de pão" dado pelo governo. Agora é correr atrás da aceitação do rico, que, sempre segundo Lula, manteve o preconceito contra ele, apesar de ter ganho dinheiro como "nunca neste país". O "bilhão" que Lula diz que rico pede quando encosta no governante já tinha sido dado (exatamente R$ 1 bi foi liberado para os produtores de soja). Agora, de quebra, ainda vêm 14 km de estrada. Não há preconceito que resista.
Editado por Anônimo às 11/23/2006 07:38:00 AM |
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