Certamente os petistas que, na segunda feira, se colocaram como 'leões-de-chácara' para fazer a triagem - na base do insulto e da agressão física - dos repórteres que pretendiam entrevistar o recém-reeleito presidente Lula, quando este voltava para o Palácio da Alvorada, não passavam de um bando de boçais, daqueles que sempre envolvem altas autoridades sob o pretexto de 'protegê-las' e muitas vezes externam a truculência ínsita ao próprio temperamento, independentemente de qualquer comando a que tivessem obedecido, neste sentido. É claro que muitos destes poderiam julgar estarem ali defendendo suas sinecuras de 'aspones', visto que, fora da administração aparelhada, talvez tivessem muita dificuldade em manter o padrão do próprio emprego. De qualquer forma, o episódio poderia ser relegado à conta de boçais isolados que, ao tentarem intimidar a imprensa, o máximo que conseguem é ser ridículos.
A tentativa de intimidar os três jornalistas da revista Veja, no momento em que prestavam depoimento à Polícia Federal (PF), pareceu um claro 'recado' enviado àquele veículo de comunicação - e, por tabela, a todos os demais - quanto à possibilidade de testemunhas poderem ser transformadas em 'suspeitos', dependendo da contundência crítica das matérias publicadas e da disposição, dos jornalistas, de revelar ou não as fontes de suas informações. O desrespeito à liberdade de informar e opinar - conquista consignada em uma das constituições mais anticensórias do mundo, como a nossa, justamente por termos passado pela férrea censura da ditadura militar - ficou mais do que patente, já pelas ameaças usadas pelo interrogador (quando mandou 'recado' aos editores da revista), pelo tolhimento da participação da advogada dos jornalistas e até pela absurda (e ilegal) recusa em dar aos depoentes cópia do que haviam oficialmente alegado.
De qualquer forma, a vexatória atitude da PF, contra os repórteres Julia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro, por mais que comprometa a instituição policial federal, pode ser atribuída a uma também isolada boçalidade - no caso, a do delegado Moysés Eduardo Pereira. Agora, o que justifica o temor de uma ameaça à liberdade de imprensa, por parte de um governo recém-reeleito (que prometeu, aliás, melhorar seu relacionamento com os veículos de comunicação), é o pronunciamento disparatado e fascistóide de quem exerce a função de presidente do Partido dos Trabalhadores e assessor especial do presidente da República - tendo sido o coordenador final de sua campanha eleitoral.
Com efeito, Marco Aurélio Garcia - que vai se tornando a figura mais sinistra do staff presidencial -, depois de uma suave condenação à violência praticada pelos boçais da porta do Alvorada, aproveitou para concitar os jornalistas a fazer uma 'auto-reflexão' sobre 'o papel que tiveram nesta campanha eleitoral', pretendendo, em última instância, que os profissionais e veículos de comunicação se retratem, peçam desculpas pelas críticas que fizeram ao governo e seus 'erros'. O atual chefe dos petistas deseja que a imprensa passe a considerar o mensalão uma pura invenção - como se o insuspeito procurador-geral da República (nomeado pelo presidente Lula) não tivesse feito constar em seu relatório, expressamente, que uma sofisticada quadrilha, integrada por membros da cúpula do governo e do PT, agia em plano federal com o objetivo de 'garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores mediante a compra de suporte político de outros partidos'. Quem foi que 'inventou' isso, então?
O pior é que esse tipo de manifestação inequivocamente censória e antidemocrática não pode ser vista como caso isolado, pois há o precedente da tentativa de criação do Conselho Federal de Jornalismo do projeto da Fenaj, aprovado por Lula, há o projeto do PT de 'democratizar os meios de comunicação', assim como há, mais recentemente, as declarações do sempre raivoso oligarca de Sobral, Ciro Gomes, sobre a necessidade do governo de 'incentivar' a criação de uma 'imprensa plural'. É claro que a imprensa é (até orgulhosamente) responsável por ter vindo à tona toda essa lama, sobre a qual Marco Aurélio Garcia queria que ela silenciasse. Mas só por má-fé poder-se-ia, no caso em pauta, confundir a origem com o canal de extravasão (da sujeira).
Editado por Anônimo às 11/02/2006 07:05:00 AM |
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