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"MARIUOLO O STRONZO?"
por Fábio Grecchi na Tribuna da Imprensa
O título desta coluna quer dizer, em italiano, "malandro ou bobo?". Ou Lula é esperto demais ou então não sabe do que fala quando, em conversa com correspondentes estrangeiros, pede que se realize uma Operação Mãos Limpas no bojo da reforma política. Malandragem, porque a ele não se aplicariam os efeitos de uma "Mano Politti". Bobeira por não ter a menor idéia do que significou.
Vamos lembrar. Desfechada pelo Ministério Público de Milão em 1992, seus primeiros protagonistas eram dirigentes e membros de partidos políticos, empenhados em burlar a lei eleitoral e o Código Penal. Tinham contra si um rosário de crimes contra a administração pública e o sistema financeiro, que ia da corrupção, passava pela concussão e chegava à evasão de divisas. Contavam com o auxílio luxuoso de dirigentes de estatais, gestores públicos e empresários.
O objetivo primeiro - os demais eram conseqüência do mundo de facilidades que se criava - era fraudar a lei do financiamento público das campanhas eleitorais. Aquilo que era obtido via caixa 2 (ou melhor, dinheiro não contabilizado) era bem mais que o destinado pela lei aos partidos políticos. Ninguém ficou imune: tinha gente do Partido Socialista, da Democracia Cristã, até do Partido Comunista.
O caixa 2, claro, sustentava caciques partidários. Uns punham parte do arrecadado nas próprias contas bancárias, dentro e fora do país. De Milão a Lugano (Suíça), dá uma hora e meia de trem. De Roma a Zurique mais ou menos duas horas pela Alitalia ou pela Swissair. Ou se preferissem, saindo da Itália via Áustria para chegar até Luxemburgo de carro dá umas seis horas. Pelo túnel que corta o Mont Blanc, um pouco mais: umas oito horas. Mas são belas viagens.
Qualquer semelhança desta operação com aquilo que se classificou aqui como mensalão não é mera coincidência. A CPI dos Correios descreveu um caminho exatamente igual de faturamento para caixas partidários, empresários amigos e dóceis dirigentes de estatais. Meio governo Lula caiu por conta disto. Assim como o governo de Bettino Craxi foi derrubado e o ex-primeiro-ministro viveu doce exílio na Tunísia, onde não podia ser preso.
Lula, Lula. Tem certeza de que você quer mesmo uma Operação Mãos Limpas no Brasil?
O primeiro
Na operação, Mario Chiesa foi o primeiro corrupto apanhado. Influente membro do Partido Socialista, recebeu o apelido de "mariuolo" (malandro), pois foi assim chamado pelo presidente do seu partido, Bettino Craxi.
Chiesa ficou sozinho, como um Silvinho Pereira qualquer. Só que, depois de um mês de cadeia, cansou-se e deu a senha: "Tutti rubiamo cosi" (todos roubamos). Os juízes, que na Europa são os responsáveis pelos inquéritos, resolveram revolver a merda, aquela mesma citada pelo ator Paulo Betti.
O peixão
Não demorou para chegarem em Craxi. Que, naturalmente, desafiou com o tradicional blefe: "Podem investigar. No máximo descobrirão histórias de mulheres". Quebrou a cara, tanto que foi condenado por corrupção e outras fraudes. No auge da crise, quando saía de um hotel em Roma, foi brindado por uma chuva de moedas e o coro: "Mariuolo!".
Mas Craxi conseguiu escapar da cadeia. Fugiu para a sua cinematográfica mansão de praia na Tunísia. Lá mesmo morreu.
A baleia
A "Mano Politti" fez 13 anos de atividades em fevereiro. Em pouco mais de uma década, já está na segunda geração de magistrados do MP italiano. Que se esforçam para alcançar agora o megaempresário Silvio Berlusconi.
Nos tempos em que foi primeiro-ministro, malandramente conseguiu aprovar lei no parlamento para suspender o processo criminal. Com Romano Prodi à frente do governo, já são grandes as pressões para a derrubada da lei. Assim, prosseguiria o processo contra Berlusconi.
Fiel da balança
Fez bem Lula dar uma adoçada em Fernando Collor, quando disse que o ex-presidente tem condições de fazer um "estupendo trabalho", agora como senador. Com o equilíbrio que se formou na Casa depois da eleição de 2 de outubro, Collor tem tudo para ser o fiel da balança.
Ou seja, se alinhar com o PMDB e o PT - além de outros partidos menores - no confronto com PFL e PSDB. Collor, porém, não disse a verdade quando confessou votar em Lula no segundo turno: se mandou para Miami para cuidar da vida.


Editado por Giulio Sanmartini   às   11/04/2006 03:56:00 AM      |