Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
BOLSA MIDIA (ERA O QUE FALTAVA!)
Josias de Souza, na UOL

Valter Pomar, secretário de Relações Internacionais do PT, defende ardorosamente a tese de que é preciso “democratizar a comunicação social” no Brasil. Como? Instituindo uma política governamental de estímulo a veículos de comunicação alternativos às grandes corporações da mídia.

Em português claro, Pomar deseja a criação de uma espécie de Programa Bolsa Mídia. O governo manejaria suas verbas publicitárias de modo a livrar veículos alternativos da exclusão imposta pelo mercado.

Pomar expôs suas idéias em artigo veiculado no portal do PT. A iniciativa é meritória e lamentável. É meritória porque traz à luz do dia teses que a maioria do petismo prefere cultivar à sombra. É lamentável porque as teses expostas são retrógradas, maniqueístas e perdulárias.

O dirigente petista escora-se num raciocínio do repórter Fernando Rodrigues para tentar injetar lógica nos seus argumentos: “Metade dos jornais, rádios e TVs no país iria à falência no dia seguinte se fosse proibido aceitar propaganda estatal –seja federal, estadual ou municipal."

“Noutras palavras”, conclui Pomar, “metade da ‘imprensa livre’ depende de verbas públicas. Ou seja: verbas vindas do governo federal e de outros níveis do Estado, garantem a sobrevivência de grande parte dos veículos de comunicação existentes no Brasil”.

Em seguida, o petista empilha argumentos que conduzem à conclusão de que governos que não concordam com o “monopólio da palavra” deveriam parar de direcionar verbas publicitárias para “os de sempre, sob o disfarce de ‘critérios técnicos’.” Insinua que grandes veículos de comunicação deveriam ser submetidos a um torniquete publicitário.

O texto de Pomar ignora um fato e esquiva-se de uma pergunta. O fato: os grandes meios de comunicação não compõem “a metade” que iria à breca sem as verbas oficiais. No borderô de gigantes da mídia impressa, por exemplo, as inversões governamentais respondem por fatias inferiores a 5% do faturamento. Os "jornalões", como gostam de dizer os petistas, não têm a “sobrevivência” enganchada no erário. Agora, a pergunta: por que diabos um governo precisa pagar anúncios?

No passado, o PT sempre combateu o hábito, cultivado por sucessivos governos, de despejar milhões em publicidade. No governo, o ex-PT não se peja de praticar o que condenava. Parece razoável que certas estatais paguem por anúncios. Empresas como Banco do Brasil e Petrobras estão submetidas à concorrência de mercado. E precisam anunciar os seus produtos.

O raciocínio não se aplica, porém, à administração direta. O que constrói a imagem de um governo é a boa gestão. Sem ela, não há verba publicitária que dê jeito. De resto, para as campanhas de utilidade pública –vacinações, combate à dengue, etc.—o governo tem à sua disposição o horário gratuito de emissoras de rádio e de TV, que são concessões públicas.

No mais, a injeção de dinheiro público em veículos ditos “alternativos” tem nome. Chama-se desperdício. O que define –ou deveria definir— a escolha dos meios de comunicação elegíveis para efeito de publicidade é o número de leitores. Vale para o Banco do Brasil a mesma lógica que se aplica ao Bradesco. Quem quer chegar ao consumidor irá buscá-lo nos veículos de maior circulação, não no Diário do Fim do Mundo. Todo o resto é conversa para muar nanar. É lero-lero ideológico.


Editado por Anônimo   às   11/30/2006 10:28:00 PM      |