Timothy Halem Nery – Economista
Muitas pessoas defendem incondicionalmente a existência e ampliação do sistema atual de ensino superior “público”. No entanto, estão na verdade defendendo seus próprios interesses, sem quaisquer tipos de preocupações que estejam além de seus umbigos. Exemplos? Não faltam, podem ter certeza. Eu, particularmente, tive a felicidade de estudar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), instituição onde me graduei com muito orgulho. Orgulho dos excelentes mestres e doutores, dos funcionários e dos colegas que conheci. Mas, sinceramente, durante o tempo que lá estudei, não consegui me convencer de que o atual sistema é justo e eficiente.
Existem inúmeros estudantes de Universidades Públicas que defendem alterações no sistema, propondo a retirada de benefícios, critérios mais rígidos, e índices de produtividade transparentes. Entretanto, devido à conjugação de diversos fatores, essas vozes acabam não repercutindo, e a sociedade mais uma vez conhece apenas um lado da história. Cabe aqui o reconhecimento público sobre a facilidade, o apoio, o talento e a persistência que o movimento de estudantes “de esquerda” possui para se organizar e exercer suas influências, embora defenda suas convicções, equivocadamente, em nome de todos. Apenas para exemplificar o absurdo dessa representação, a última eleição que presenciei na Faculdade de Ciências Econômicas contou com a participação de aproximadamente 10% dos alunos. Além disso, todas as eleições para diretórios acadêmicos, inclusive para a UNE, estão sempre cercadas de acusações e abusos, e os mandatos conquistados servem apenas como trampolim nos partidos políticos. O principal argumento utilizado pelos estudantes, políticos e simpatizantes que defendem o sistema atual é o “direito”. Afirmam repetidamente que a sociedade tem o direito constitucional de acesso ao ensino superior gratuito e de qualidade, slogan mais famoso que o Ronaldinho Gaúcho. Sociedade? Direito? Devem estar brincando! O que os malandros escondem é exatamente o fato de não existir “direito”, pois a sociedade tem, na verdade, apenas um dever: pagar a conta. O direito de acesso fica restrito a minoria que, com seus méritos, conquista cada uma das disputadas vagas. De “direitos constitucionais” o Brasil transborda. Não tenho dúvida do quão atraente e romântico fica esse discurso. Aliás, discursos como esses acabam de eleger inúmeros candidatos “bonzinhos”, alguns até consagrados como campões de votos. Na prática, a teoria é outra. Novamente. Quem conquista uma vaga nas instituições públicas não precisa realizar um investimento de, no mínimo, R$30.000,00 (dependendo do curso escolhido pode alcançar mais de R$100.000,00), só em mensalidades. Ah, sabe quem realiza tal investimento? A sociedade. Aquela mesma que teria o “direito constitucional” de acesso. Conseqüência? Benefícios privados que são gerados a partir de dinheiro público. O maior benefício é a formação, normalmente de excelente qualidade, que dá ao estudante maiores probabilidades de alcançar o sucesso profissional e a estabilidade financeira. Isso sem ter que retornar o investimento que foi realizado pela sociedade. O resultado é concentração de renda. Ué? No sistema que a “esquerda festiva e inclusiva” defende. Tsc, tsc, tsc. Faça um teste: se dirija a um banco (até mesmo “público”) e solicite um empréstimo para financiar seus estudos. Não esqueça de informar ao gerente que você não irá devolver o dinheiro. O que acontece? Ah, isso não importa. Mas veja bem, os benefícios não são poucos. Ali na UFRGS os estudantes almoçam e jantam no restaurante universitário por R$1,30 (valor até Julho/06), possuem estacionamento gratuito (sorteio), desfrutam da Colônia de Férias de Tramandaí (acho que existe mais uma) por valores irrisórios e os Diretórios Acadêmicos podem requisitar verbas para viagens aos Encontros de Estudantes, entre outros absurdos. A “justiça social” é tão grande, que permite aos que “poupam” no restaurante universitário gastarem tais “economias” no McDonalds ou nos bares da Lima e Silva. Aqueles que se “sacrificam” um pouco mais, “poupando” os valores do estacionamento e das diárias em Tramandaí, podem aproveitar indo até Garopaba ou Floripa em fevereiro. E por aí vai. Para os que se autodenominam defensores da justiça social, isso tudo se torna irrelevante. O importante é ser “grátis”. Afirmar e comprovar que o sistema atual de ensino superior público sempre foi e será mantido pela sociedade, com custo elevado, e que seus benefícios são privados, é “coisa de neoliberal”! E o povo aplaude enquanto paga a conta. Sempre defenderei a existência das instituições públicas de ensino superior, desde que apresentem indicadores de qualidade transparentes e formas de ingresso exclusivamente meritórias. Além disso, é importante a existência de critérios mais rígidos, de forma que os estudantes não tenham o “direito” de reprovar ou cancelar matrículas inúmeras vezes. Mas a principal alteração necessária, a meu ver, é que o ensino superior “público” passe a ser visto como financiamento, de forma que o estudante tenha a obrigação legal de pagar pela sua formação, mesmo depois de concluída. Uma espécie de crédito educativo. Essas medidas, socialmente justas, permitiriam maiores investimentos no próprio sistema de ensino superior, além de gerar incentivos que estimulam a eficiência e a qualidade.
Editado por Ralph J. Hofmann às 11/30/2006 05:33:00 PM |
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