Ralph J. Hofmann
Circula na Internet o depoimento de um, empresário que descreveu alguns anos atrás na EXAME as agruras pelas quais passava por tentar pautar-se, guardadas as devidas proporções, pelos princípios de filantropia de grandes empresários do primeiro mundo. De origem extremamente modesta, filho de agricultores, veio a estudar depois de adulto. Completou o primeiro grau aos 22 anos, e chegou a freqüentar uma faculdade de engenharia. Contudo, no afã de manter-se e aos seus, ao contrário dessa massa de manobra que engrossa as fileiras dos acampamentos do MST, fora de operário, criara uma empresa com os conhecimentos adquiridos trabalhando e operava com tecnologia de ponta, desenvolvida como autodidata, tendo chegado a fornecedor da Petrobrás. Cônscio de que sua força de trabalho devia ser educada, até culta, visto a educação levar ao estímulo necessário à criatividade, prontificou-se a pagar os estudos em qualquer nível, desde a alfabetização até a universidade, de qualquer empregado seu, fosse o varredor do chão de fábrica fosse técnico. Bastava ao operário indicar sua intenção de estudar. Seria atendido. Mesmo para estudar literatura ou filosofia, pois qualquer acréscimo de cultura enriqueceria a qualidade do funcionário. Pois o nosso empreendedor foi multado pelo INSS, que considerava esse pagamento um salário indireto. Devia recolher INSS sobre tal parcela do salário.
Ou seja, o estado não paga o ensino para todos neste país, o estado não supre ensino de primeira, mas cioso de suas prerrogativas cerceia atos de indivíduos que pratiquem a filantropia iniciando pelo seu círculo mais próximo. O empreendedor travou uma luta solitária, até ser finalmente socorrido por um Decreto de Fernando Henrique Cardoso que decidiu que esses auxílios educacionais não poderiam ser considerados salários. Na verdade para mim seriam um investimento a fundo perdido. A empresa melhora seu pessoal, sem garantia de que os mesmos permaneçam na mesma. Mas passou a ser marcado de perto até o ponto em que a bem de sua tranqüilidade vendeu sua empresa a uma multinacional. Industrialista convicto hoje possui uma nova empresa de tecnologia de ponta. É um homem engajado. Já vi muitos outros casos de multas impostas de forma irracional neste país. Já fiz parte de uma empresa que pagou as multas para evitar revanches futuras, sendo efetivamente inocente de qualquer coisa que não fosse um comportamento voluntarioso de um fiscal. Contestar representaria que, dado o corporativismo dos fiscais, ficaríamos vulneráveis. O conjunto de leis fiscais deste país é tão vasto que a pessoa não raro é induzida ao erro quanto a certa lei ao evitar infringir outra.. Consultei hoje um perito em contabilidade de alto nível. Vejam a resposta: “O pagamento de despesas com educação para empregados sempre foi salário indireto e continua sendo, exceto quando a empresa oferece o mesmo auxílio para todos os seus empregados, com os mesmos percentuais de participação da empresa e dos empregados para todos. Os empregados que não estão estudando ou não querem o benefício devem abdicar do mesmo por escrito para a empresa empregadora.” Vejam o absurdo. O ônus de alistar pessoas para estudar cai sobre o empreendedor. E se algum operário optar por nem estudar nem assinar um documento abdicando do direito de estudar às custas da empresa o programa terá de ser sucateado. De fato, este país apenas finge que dá valor ao indivíduo que se esforça. Protege os direitos de amebas indolentes às custas do potencial daqueles que se empenhariam em se desenvolver. Qual é o contrário de meritocracia? E por fim, não é de surpreender que o mecenato seja tão raro neste país. Em muitos casos é desencorajado.
Editado por Ralph J. Hofmann às 10/10/2006 07:24:00 PM |
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