Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa Não se pode dizer que o governo Lula deixou de privatizar estatais. Não as vendeu à iniciativa privada, mas entregou-as aos companheiros de partido e de sindicatos para que dirigissem sem qualquer compromisso com a eficiência. Quem perdeu eleições em 2002 teve uma brecha nessas empresas, cujas diretorias foram trocadas por funcionários de carreira pela nova burguesia vinda do proletariado, sem qualquer competência ou histórico no setor. Caso famoso foi o de um presidente de estatal que logo na primeira semana nomeou a amante para assessora de imprensa. Além do mais, os neo-importantes se cercaram de assessores e mais assessores, inchando o quadro administrativo das estatais. Conhecer o "metier" não conheciam, mas mandavam horrores. A isto deu-se o nome de "aparelhamento da máquina pública". Sabia-se que haviam tomado de assalto e que tudo não passava da ocupação de espaços que todo e qualquer governo realiza. Naturalmente que age assim como forma de agradar aliados, dar cobertura a apaniguados, fazer negócios e engordar o caixa do partido que ora está no poder. A questão até então é que havia uma certa discrição e os círculos de poder sabiam, mas procuravam manter a maior distância possível por conta da eventual explosão do escândalo. Que sempre vinha à tona na imprensa.
A diferença no governo Lula foi o desavergonhamento do processo. Do Palácio do Planalto saía a coordenação de todo o processo. Aquilo que era coisa de segundo e escalões intermediários se tornou coisa de cúpula. Foi este o entendimento que o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, deu quando qualificou como "quadrilha" todos os denunciados ao Supremo Tribunal Federal. Na lista, uma fileira de ministros e altos dirigentes petistas. O objetivo maior deste aparelhamento nem foi o faturamento em benefício próprio, embora, em certa medida, isso seja impossível evitar - um Land Rover não é mimo que se despreze. O interesse desta privatização enviezada era saldar dívidas de campanha e já fazer o caixa para a eleição seguinte. Afinal, um projeto de poder não pode se esgotar em somente quatro anos. Ainda mais em se tratando de um sonho acalentado há pelo menos três décadas. Se tivesse tido mais tempo, Fernando Henrique Cardoso não tinha deixado uma única e escassa estatal intacta. Estariam hoje nas mãos dos amigos da iniciativa privada. Lula não pretende vendê-las, pois já notou que também dá para fazer uma gorda fatura deixando as coisas como estão.
Editado por Giulio Sanmartini às 10/19/2006 03:00:00 AM |
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