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O IMPROVÁVEL ALIADO
Por José Inácio Werneck, em Direto da Redação
Bristol (EUA) – A administração de George W. Bush está à matroca. Tudo, com uma única exceção, tem dado errado para ela, a começar pela Guerra no Iraque, nome pomposo para uma simples e ilegal invasão de terreno alheio. É aquilo que os estatutos penais americanos definem como “criminal trespass” e o ocupante da Casa Branca merecia ser levado à barra de um tribunal internacional.
Depois de posar debaixo de uma faixa que dizia “Mission Accomplished” e adotar mais tarde, quando as pessoas começaram a reclamar que a missão nada tinha de cumprida, o slogan “stay the course”, para dizer que o respeitável público deveria confiar em sua mão firme de timoneiro, o presidente americano passou a dar entrevistas desesperadas, por ver que razão mesmo tinha seu velho adversário político Ted Kennedy, para quem o Iraque seria um novo Vietnã.
Nesta quarta-feira em Washington houve nova entrevista de Bush - e chegou à beira da farsa. Ocorreu que as tropas americanas empreenderam uma expedição punitiva contra os integrantes da chamada Armada Mahdi (não confundir com L’Armata Brancaleone), do clérico xiita Muqtada Al-Sadr. Mas logo em seguida o primeiro ministro iraquiano, Nuri Kamal al-Maliki, declarou que não tinha sido consultado a respeito da operação, nem a autorizara. Maliki também lamentou incursões americanas contra outra milícia xiita, a Organização Badr.
Ora, há algum tempo George W. Bush fez uma visita de surpresa ao Iraque. Tão de surpresa que não avisou o Primeiro-Ministro de um governo que ele sempre declara ser “independente e soberano”. Apenas depois de desembarcar em Bagdá (como quem chega a Omaha, em Nebraska, ou Little Rock, no Arkansas) Bush mandou dizer ao dono da casa que estava no pedaço. Contrafeito e aturdido, Maliki compareceu para posar para fotos e prestar algumas declarações.
Agora, nos jardins da Casa Branca, depois de reconhecer que “o caminho para a vitória não será fácil”, Bush acabou por confessar que há “alguns problemas de comunicação” com o governo iraquiano. A alternativa, claro, seria dizer que as tropas americanas empreendem as ações que quiserem e não tem que dar satisfações ao senhor Maliki. Em bom português, tais palavras teriam o significado de “ele é Primeiro-Ministro pras negas dele”.
Há uma boa possibilidade da administração Bush perder o controle do Senado e da Câmara nas eleições em novembro. Mesmo que os republicanos mantenham a maioria nas duas casas, será por margem pequena e precária. Duas boas conseqüências serão uma maior chance de aprovação de um projeto combatendo o aquecimento global (ao qual Bush se opõe tenazmente) e de uma lei mais branda quanto aos imigrantes do que a que Bush assinará nesta quarta-feira, autorizando a construção de um “Muro da Vergonha” entre Estados Unidos e México. (Diga-se, a bem da justiça, que Bush é mais liberal em relação aos imigrantes do que a maior parte dos senadores e deputados republicanos).
Se os democratas conquistarem a maioria nas duas casas, desfecharão investigações sobre o Iraque e outros aspectos mal explicados da administração Bush. Com o que, a única vitória de que ele poderá se gabar é aquela que vem obtendo no momento na ONU. Os Estados Unidos conseguiram mesmo bloquear o acesso da Venezuela ao Conselho de Segurança.
E a culpa é de uma só pessoa. O próprio Hugo Chávez, que se comportou na tribuna como autêntico paspalhão, naquele discurso em que chamou Bush de “diabo”. Há coisas que se pensam, mas não se dizem em ocasiões solenes, em nome do decoro.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/26/2006 07:47:00 AM      |