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COMUNICAÇÃO, EIS A QUESTÃO
Por Onofre Ribeiro
A eleição presidencial será vencida pela comunicação. Melhor dizendo, por quem melhor utilizou-se da comunicação. E por quem soube se comunicar com a sociedade. Nisso, Lula foi muito mais eficiente.
Após o primeiro programa, anunciei neste espaço que a sua comunicação era, de longe, a melhor. E a sua capacidade pessoal de comunicar-se, também. Mas, olhem bem: não estou falando do seu discurso. Esse foi capenga desde o primeiro programa. Lula não costura nada de forma coerente. Seu discurso é uma extraordinária e bem feita montagem de “inserts”. Cada um reflete uma idéia, um número ou alguma coisa que só faz sentido se for dita por ele. Não que ele seja gênio. Mas é que Lula navega com enorme facilidade no campo das composições da fala, mesmo que o nexo não seja o primor.
No segundo turno, ele defrontou-se com Geraldo Alckmin, um primor de lógica. A lógica pressupõe que as idéias sejam ligadas umas às outras para dar sentido ao que se propõe. Pragmático, Alckmin perdeu terreno rapidamente, contra um furacão de falas chamado Lula.
Ainda não estamos falando da plástica e nem da produção dos respectivos programas. Alckmin fez todo o tempo programas didáticos, nos quais usou uma linguagem apropriada à classe média. Usou termos como “eficácia da gestão pública”, “dossiê das sanguessugas”, “defasagem câmbial”, “reformas de base”, etc. Já Lula, preferiu a primeira pessoa do singular e, quando lhe convém, a primeira pessoa do plural: “fiz” ou “fizemos”, em programas leves e dinâmicos.
Tom paternal, tom irritado, tom indignado, tom reflexivo, tom preocupado. Ele faz essas transformações diante da câmera com natural facilidade. Alckmin não consegue ser paternal e nem irritado. Faz uma comunicação linear e bem comportada. O eleitor não compreende a diferença entre a espontaneidade de um e o formalismo do outro.
As telenovelas construíram ao longo dos últimos 40 anos uma linguagem sutil que só é interpretada através da percepção. O caráter dos personagens, seus atos, suas roupas, sua fala e gestos dão-lhe uma linguagem que o telespectador interpreta sem que ninguém lhe diga. Esse mesmo telespectador está diante da tela assistindo ao horário eleitoral gratuito, fazendo leituras subjetivas de olhares, gestos, falas, roupa, expressões faciais dos candidatos. É profundamente crítico quando diz: “não gosto do jeito dele”, ao referir-se a um dois candidatos. Ele está dizendo que captou e interpretou sensações e percepções que não lhe agradam.
Nisso, também, Lula é professor dos seus próprios marqueteiros. Com uma simples cifra ele traduz na forma que todos compreendem. Se é lógico ou não, isso não tem a menor importância, justamente porque Lula não se enquadra na lógica. Ele se enquadra em fins e em meios.
Amanhã termina o horário eleitoral gratuito da eleição presidencial, e ficou bem marcado que a comunicação pessoal dos candidatos foi determinante para o resultado da votação. Já a gestão, bom, aí será outra questão, bem maior do que a comunicação fácil...!


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/26/2006 07:32:00 AM      |