Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa BRASÍLIA - Delfim Neto, ministro no governo Lula? Nem pensar. A hipótese surge inviável. Cotação zero para efetivar-se, tanto por decisão do ex-ministro quanto por dificuldades políticas. No entanto, soa como profunda estultice a argumentação de setores ironicamente ligados ao presidente Lula, uns, e ao neoliberalismo tucano, outros, de que Delfim não pode ser ministro "porque serviu à ditadura". Saiu-se com descabido diagnóstico o sociólogo, nem tão perseguido assim pelo regime militar. Afinal, Fernando Henrique exilou-se por conta própria e voltou quando quis, para ganhar dinheiro da Fundação Ford, não propriamente adversária dos generais-presidentes, muito ao contrário. Dois dias atrás disse, acusando o ex-ministro de ter sido fotografado ao lado do alto comando do PT: "Delfim foi o algoz dos tempos da ditadura..." Aliás, monumental injustiça. Entretanto, existem no PT os que fazem ouvidos moucos aos escândalos do mensalão e do dossiê, mas avançam palpites discriminatórios contra Delfim Neto, comicamente pelos mesmos motivos do "alto tucanato".
Delfim não aceitará ser ministro Está na hora de repor as coisas em seus devidos termos. O regime militar praticou erros inomináveis, da censura à imprensa, à repressão virulenta aos seus adversários. Mas não entregou o País à sanha dos especuladores, não privatizou patrimônio público e assegurou a soberania nacional. Os militares deixaram o Brasil como a oitava economia do planeta e investiram em geração de energia elétrica, abertura de estradas, telecomunicações e exploração do subsolo. Será que entre 1964 e 1985 não existíamos como nação? Os 90 milhões de brasileiros da época viajaram todos para o exterior, como forma de manifestar o seu protesto diante do autoritarismo? Estava a população confinada a campos de concentração? Claro que a maioria rejeitava a ditadura, exceção dos tempos irônicos em que um general acertou o resultado da partida final da Copa do Mundo (Brasil, 4, Itália, 1) e ficou meses sendo aplaudido no Maracanã e no Morumbi. É fascismo estigmatizar e considerar leprosos os que trabalharam, ganharam ou perderam dinheiro à sombra daqueles governos. Especialmente se, como agora, intentam vetar ou participar do novo banquete do poder. Delfim Neto não será ministro porque, se convidado, não aceitará. Assim como Lula não o convidará, para não tornar ainda mais confusa sua base de apoio político. Mas, como não deixou de consultá-lo e de pedir suas opiniões durante os últimos quatro anos, Delfim também jamais se sentiu um réprobo, discriminado a ponto de isolar-se. Tanto que exerceu por quatro anos mandato de deputado federal. É fácil atacar o ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, agora que não teve renovada sua cadeira na Câmara Federal, como mais fácil parece ser dividir o Brasil em dois, quando na verdade foi e continua um só. A História demonstra repúdio a radicalismos iguais aos de hoje. Ou Rui Barbosa, Rodrigues Alves e Afonso Pena, por exemplo, não foram primeiro conselheiros do Império, depois construtores e consolidadores da República? Getúlio Vargas, antes ditador e em seguida presidente constitucional, jamais deixou de cooptar adversários, de Góes Monteiro a Juracy Magalhães e a José Américo. Pretendem, certos patetas, fingir que eram todos guerrilheiros, nos anos tanto de chumbo quanto de crescimento do PIB a 11% ao ano? Deixem o gordo em paz. A menos que ele seja convidado e reformule a decisão de não aceitar.
Editado por Giulio Sanmartini às 10/28/2006 01:58:00 AM |
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