Por Onofre Ribeiro Por força do hábito, da necessidade de colher informações, e pela própria inquietação pessoal converso, converso e converso sobre eleições nestes últimos dias do segundo turno. Fui trocar um pneu do carro, o borracheiro reconheceu-me e puxou assunto político, com a sua sabedoria própria. Fui cortar o cabelo, idem. Fui comprar umas ferramentas e o balconista puxou assunto de política. No supermercado a moça do caixa quer saber em quem vou votar. No escritório do Indea e da Secretaria de Fazenda no Parque de Exposições de Cuiabá, todos querem falar de política. Na noite de quinta-feira, num jantar com empresários, comemorando a eleição do empresário Mauro Mendes para presidente da Federação das Indústrias, o tema foi só política. Mas não pára por aí. De tudo isso, acabo tirando leituras muito curiosas, que somadas às minhas próprias, acabam dando uma versão muito abrangente da eleição presidencial. As preocupações com o destino do país são evidentes em todos os setores e em todas as pessoas. Ninguém está otimista esperando que o presidente eleito salve o Brasil da má gestão, do Estado desumano, da corrupção endêmica, da política envelhecida e corrompida, dos impostos altos, da falta de segurança, da péssima educação pública, da saúde desumana e das universidades públicas politizadas para os seus próprios interesses.
Curiosamente, todas as pessoas têm a perfeita consciência disso tudo. Pode, talvez, não ser com estas palavras. Mas a percepção é a de que as coisas estão muito mal e que precisam mudar. Não esperam que o Estado corrija tudo isso, porque sabem que o Estado brasileiro está esgotado como modelo gestor do país. Os empresários, as pessoas comuns, os profissionais liberais, os funcionários públicos estão esperando tempos ruins. Não sabem exatamente o porquê, mas pressentem. Porém, surpreendentemente, em todas as conversas, constato que todos estão dispostos a pagar um preço pelo conserto do Brasil. Seja uma crise econômica, seja uma desordem social previsível. Todos sabem que o trem-Brasil está fora dos eixos. A insegurança nas ruas lhes diz isso, porque a segurança decorre de um problema social de base. Consertar isso significa cortar na carne da sociedade. Ela aceita isso se houver um bom projeto. Contudo, de todas as minhas centenas de conversas, constato que as pessoas estão frustradas. Não viram durante a campanha eleitoral presidencial, no primeiro e no segundo turno, nenhuma discussão mais séria e mais aprofundada do país que será governado a partir de 2000. O medo de perder votos com a discussão a fundo do Brasil ensandecido que vivemos, levou todos os candidatos no primeiro turno a tangenciar a realidade. No segundo turno, a campanha e os debates não passaram de jogo de cena para a mídia. Não se discutiu o Brasil de 2007 em diante. Preferiu-se o conforto das realizações mostradas por cada um dos dois candidatos.Coisas de passado. Do presente e do futuro, nada! Vamos votar amanhã com um travo na garganta. Um medo incerto de um futuro também incerto. Para pôr o Brasil nos eixos há que se reformar quase tudo. Será possível, e em condições de atender às expectativas dos brasileiros? Temo que não.
Editado por Giulio Sanmartini às 10/28/2006 01:53:00 AM |
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