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BURACO NEGRO
Por Dora Kramer em O Estado de São Paulo
O governo e o PT mais uma vez estão sendo competentes na arte de confundir ao máximo a cabeça das pessoas para evitar explicar o mínimo sobre fatos que os comprometem. A cada dia surge uma nova versão sobre o dossiê contra os tucanos, cujo esclarecimento vai caminhando célere em direção ao mais profundo buraco negro.
Na semana seguinte à prisão dos petistas que se preparavam para pagar R$ 1,75 milhão por documentos e uma entrevista denunciando o então candidato ao PSDB e agora governador eleito de São Paulo, José Serra, como integrante da máfia das ambulâncias, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, assegurou que o caso estava 'praticamente esclarecido'.
Lá se vai quase um mês e não só nada está esclarecido, como o quadro se configura completamente confuso. A Polícia Federal pediu a quebra do sigilo de nada menos que 650 linhas telefônicas para, a partir do cruzamento dos dados, rastrear o dinheiro e tentar chegar à sua origem.
Ao mesmo tempo, levanta-se a hipótese de que o montante tenha tido origem no jogo do bicho - onde vale a escrita precária e a palavra empenhada em detrimento de registros passíveis de serem usados como provas. Isso oficialmente. No terreno da boataria espalham-se outras tantas histórias, dando conta ora de que o dinheiro pertence a um político bastante conhecido, ora que foi fornecido por um empresário igualmente notório, no sentido de finório.
A polícia diz que não existem provas contra Freud Godoy, assessor direto do presidente Luiz Inácio da Silva, mas não descarta seu envolvimento. O denunciante de Freud afirma que foi coagido a apontar o nome de alguém ligado ao presidente em seu depoimento e, para coroar a babel, o presidente, o ministro Tarso Genro e o deputado eleito Ciro Gomes avalizam uma teoria segundo a qual quem montou o dossiê contra o PSDB foi o PSDB para complicar a vida do PT.
O argumento é bem simplesinho: se o prejudicado foi Lula, os arquitetos só poderiam ser os adversários. É claro que tal lógica subtrai a evidência de que o prejuízo só ocorreu porque a ação deu errado.
Na verdade o que menos vale nessa história toda é justamente a lógica, porque a idéia é confundir os raciocínios, complicar as investigações de tal forma que o público comece a achar que está mesmo diante de um grande saco de farinha onde cabem todos os contendores da disputa eleitoral, este ente 'sujo' genericamente denominado de 'os políticos'.
Não se pode negar a eficácia do truque, pois hoje já se vê gente 'pensando bem' se, de fato, tudo não teria passado de uma urdidura tucana para atingir o presidente e provocar o segundo turno da eleição.
Ficou em segundo plano a condenação veemente dos 'meninos aloprados', feita quando se imaginou fosse suficiente para tirar a suspeita dos ombros do presidente, bem como foi posta de lado a necessidade de 'apuração profunda e rápida' das responsabilidades no momento em que Lula estendeu para 'até 10 anos' o prazo para o esclarecimento final.
Resumindo: não adianta a oposição, a população nem ninguém cobrar a composição dos pingos nos is desse caso do dossiê, porque por iniciativa do governo não vai acontecer nada além do aparecimento de novas e cada vez mais emaranhadas versões.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/11/2006 08:14:00 AM      |