Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
ADEUS ÀS ARMAS
Por Dora Kramer em O Estado de São Paulo
Se as pesquisas de opinião não estiverem absurdamente erradas - e dificilmente estarão nessa proporção da dianteira de 20 pontos porcentuais em favor do presidente Luiz Inácio da Silva -, o Brasil vai continuar com o mesmo governo e a mesma oposição que agora devoram mutuamente os respectivos fígados.
Pacto de união nacional, concertação, ou seja lá o nome que o PT dê à trégua que pretende obter dos adversários para governar sem grandes contestações, artifícios políticos dessa natureza estão fora de cogitação vis-à-vis o cenário inteiramente diferente em que, tudo indica, o presidente Lula se reelegerá. Nada nem de longe parecido com ambiente de celebração festiva de outubro de 2002.
A crise, pois, está contratada e disso ninguém tem dúvida, muito menos os personagens partidários diretamente envolvidos no embate: PT, PSDB, PFL e suas áreas de influência.
A questão a ser examinada é a profundidade, amplitude e, sobretudo, as formas de condução do conflito. Ao governo interessará manejar a vitória para respirar um pouco, conseguir um armistício e engrenar a marcha. À oposição obviamente caberá a continuidade da cobrança da resolução do passivo acumulado, quase todo ele relativo a problemas jurídico-policiais.
Estarão ambos em seus papéis, embora cumpra aos dois lados cuidar para que não se percam as referências nem o pé da realidade. O governo, se reeleito for, não poderá esperar como conseqüência uma absolvição liminar aos casos em aberto, sendo o mais recente o do dossiê, cujo financiamento a Polícia Federal ainda investiga.
Não poderá pretender impedir a oposição de cobrar, sob o argumento de que a continuidade do embate traduz desrespeito ao resultado eleitoral.
Os oposicionistas, de seu lado, tampouco prestarão bons serviços - nem serão bem vistos - se não abrirem algum espaço em suas agendas para outros assuntos do interesse nacional, mesmo que no diapasão da crítica.
Observador arguto de conseqüências, o deputado Fernando Gabeira considera da maior e primordial importância o estabelecimento de um programa mínimo de trabalho pelo qual o governo não tente recorrer à truculência nem use dos instrumentos de Estado para barrar investigações e a oposição se comprometa a pesar e medir com equilíbrio os argumentos de defesa, abandonando a lógica eleitoral da criação de fatos políticos.
'Se a resolução do caso do dossiê é a preliminar para a administração madura da convivência entre governo e oposição, ele deve ser resolvido o quanto antes, mas mediante um acordo de procedimentos civilizados e democráticos de parte a parte.' Na opinião dele, sem isso o País não agüenta e sucumbe ao confronto.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/19/2006 12:15:00 PM      |