Por Alexandre Slhessarenko, advogado e filho da senadora Serys Marli (PT) e escreve de São Paulo.
“Luiz Antônio Vedoin - Mas quanto que é?
Valdebran - É um, não é?
Luiz Antônio Vedoin - Não!
Valdebran - Ô, meu jovem...
Luiz Antônio Vedoin - Ah, entendi.”
(Conversa de Valdebran Padilha com Luiz Antônio Vedoin, havida dia 14/09, às 14:50 - Veja desta semana nas bancas)
Setembro prometia. No último dia do mês do cachorro louco (31/08/2006), a polícia norueguesa conseguiu recuperar, aquela que é conhecida, obra-prima de Hevard Munch, a ode à loucura, ‘O Grito’. Bom presságio, em época de insanidades, pensei.
Agosto tivera sido um mês difícil, mas começava a desanuviar, com a luz do sol real entrando por setembro, arejando as prateleiras empoeiradas de jornais vencidos.
O mês de setembro - que certamente, depois de 2001 - também apontará um marco de virada da história, ousaria dizer tal qual a tomada de Constantinopla; reservaria, contudo, algo mais que estranho, e diria alguns, sinistro em suas coincidências (ou nem tanto assim!).
Na deflagração do último dos escândalos - o dossiê ‘Tabajara’ - com todos os seus personagens, intriga um fato em particular: o quê Valdebran Padilha, ligado ao PT, admitidamente amigo pessoal dos Vedoin (a ponto deste lhe confiar a ‘missão’ de recebedor dos 1,7 milhão em SP), estava tramando ao visitá-lo, preso na sede da Polinter em Cuiabá, dias antes do depoimento onde, em delação premiada, acusa Serys como a primeira parlamentar envolvida, de forma nominada e com denúncia direta?
A peculiaridade das circunstâncias que envolveram a acusação contra Serys, chama atenção em um detalhe inicial: firmada a delação premiada - instituto que, apesar das críticas consagradas por ilustres juristas, para ficar só em NICOLA DEI MALATESTA - tem seu mérito quando acompanhado de provas materiais consistentes, a corroborar com as acusações. Com tantos e tantos documentos, provas de depósitos em conta, registros, anotações, é realmente intrigante o fato de Luiz Antônio Vedoin apontar e desferir contra Serys, a primeira acusação nominada e direta nesse escândalo todo. Indagado pelo Senador Siba Machado, o por quê de tal pressa e açodamento, Vedoin respondeu porque assim o foi perguntado pelo Juiz. Os autos do processo não revelam isso, bastando ler, em seqüência lógica para perceber que Luiz Antônio explicava a complicada engenharia empresarial montada para as fraudes, mencionando o papel de cada empresa e seus personagens no ‘negócio’, quando, de inopino, guinda para acusar, repita-se, como primeira acusação nominada e direta, o caso Serys; o que volta a ocorrer, mais de 50 folhas depois, quando, aí sim, perquirido sobre o envolvimento de senadores, repete, com escorregões, a trama sórdida em torno de Serys.
Agora aparece Valdebran Padilha, público e notoriamente desafeto de Serys - quem o vetou, por duas vezes, indicação em cargo federal na Eletronorte - um dos maiores orçamentos à disposição em entidades federais, para ‘cargos em confiança’. Supõe-se que Valdebran deve, por isso, adorá-la, mas enfim; fato é que, agora, sabe-se que Valdebran esteve com os Vedoin, ‘visitando’ a prisão, e talvez tivesse sido melhor, em vistas aos acontecimentos de hoje, ficasse pro lado de dentro do cárcere.
Valdebran estaria ali mais por amizade que qualquer outra coisa? Lhe se estaria devendo algo? Foi acertar ‘algumas coisas’? A mando de determinados setores partidários? Era um neurônio desgarrado de uma ‘inteligentsia’? Em que medida, sabe-se lá, seus interesses pessoais poderiam pagar um oportuno couvert de entrada no banquete das denúncias, salpicadas ao sabor das conveniências e de muita grana? Stranho, stranho...ao fundo Maria Callas canta a “La Traviata”, se não me engano.
Tudo é muito sinistro. As contradições dos Vedoin, sobre o caso Serys, são muitas, mas estão próximas de fechar.
Extremamente ‘organizado’ nas anotações e registros, com as famosas ‘pastas’, livro-caixa, Vedoin, entretanto, não consegue precisar a data do alegado pagamento dos 35 mil à Paulo Roberto-genro. Ora diz, no depoimento à Justiça Federal de Mato Grosso, que a grana “foi paga no ano de 2004”; ora diz, no depoimento perante a CPMI e repetido na Comissão de Ética do Senado, que teria sido “entre setembro e outubro de 2003”, ou ainda, “uns 15 dias” daquela data. Outra: não se acertam ‘quem’ teria entregue o dinheiro. Luiz diz que foi ele quem “entregou pessoalmente a Paulo”. Já seu pai, primeiramente também disse que “entregou em mão para Paulo”, depois, em outro depoimento, Darci diz “que nem estava em Cuiabá” quando do ocorrido. Não se acertam, também, nas testemunhas que teriam visto tal entrega da grana. Um deles, Ivo Marcelo, ora esquecido, ora não, diz que tudo foi muito rápido, durou “10, 15...20 segundos”. Tipo assim, ‘de galo’, imagino.
Paulo Roberto, sempre sustentou a negociação comercial - à vista do extrato bancário de sua empresa de comércio e representações - paga por cheque no valor de 37.200 e, pode ter, “uns quebrados”, já que na agência bancária, tal cheque, segundo consta, foi ‘transformado’ em TED. Não emitiu nota fiscal, incorrendo em mera irregularidade tributária não tão escandalosa, tampouco inédita assim no meio empresarial, enfim. Mas Ivo Marcelo, quem segundo Paulo Roberto lhe entregou e emitiu o cheque, considera ‘provável’ a emissão, embora negue a entrega do pagamento, já que admitiu que deixava vários cheques “assinados em branco” para pagamento, por diversas vezes, de “despesas da empresa”, algumas delas, inclusive, “fornecedores”. Luiz Antônio disse, ainda, perante os últimos depoimentos no Conselho de Ética do Senado, que se tal cheque aparecer - com a riqueza de detalhes apresentada por Paulo Roberto - admite a hipótese, “significa que estou mentindo”. Ao contrário das palavras de Vedoin, a verdade tem como ser rastreado. A aparição de tal cheque, desfecha a trama, sendo só uma questão de tempo. A Comissão de Ética do Senado, por seu turno, já oficiou o Banco Central à busca da microfilmagem do cheque, está para chegar. Luiz Antônio reporta, ainda, não ter feito aquisição alguma de Paulo Roberto, mas não explica que também participou de uma concorrência, vencida por Paulo Roberto, para fornecimento dos mesmos materiais e equipamentos médico-hospitalares, enfim.
Nesse qüiproquó todo, rasqueado montado, os Vedoin - quem sabe animados com a ‘solidariedade’ e ‘presteza’ de Valdebran Padilha - tentaram envolver Serys, apesar do próprio Luiz Antônio já ter admitido, em depoimento, o não envolvimento dela ao reconhecer que, em instante algum, “o genro falou em nome da Senadora”.
Em época de escândalo, espanta a facilidade com que os protagonistas tratam de milhões. Os sete dígitos que para muitos e muitos, nunca vamos ver no cotidiano de se ganhar a vida no trabalho honesto e com o suor do próprio rosto; brotam, todavia, com uma espontaneidade que desafia qualquer teoria econômica da mais-valia: o dossiê vale tanto?
Nas interceptações da Polícia Federal, divulgadas esta semana pela Revista Veja há um diálogo - no mínimo estranho pelo desentendimento havido entre Valdebran Padilha e Luiz Antônio - sobre o preço do dossiê. Na primeira parte, Valdebran chama para si a função de “mediador”, mesmo porque, segundo consta (folhaonline, 23/09/2006 - 09h02, “Dossiê foi montado para acertar dívida de propina”, foram apreendidos com Vedoin, cheques num total de 300 mil, de emissão de Valdebran, ‘como garantia’). A confirmar que quem teve a idéia cerebrina do dossiê foi Valdebran, com isso, resolvia suas dívidas (sabe-se lá de que origem) e ainda posaria de bom e ‘leal’ moço. Na segunda parte do diálogo, reportado contínuo pela Veja desta semana, a armação: Vedoin não sabe o preço do ‘seu’ dossiê.
“Valdebran - A outra metade já ta viabilizada (refere-se ao restante do pagamento). O que você vai fazer aí?
Luiz Antônio - Em qual sentido você ta falando?
Valdebran - Quem ta sendo mediador dessa p...sou eu. Nem é a turma que esta aí (refere-se aos petistas que estavam em Cuiabá).
Luiz Antônio - Sei...
Valdebran - É o seguinte: era um, né?
Luiz Antônio Vedoin - Hã...
Valdebran - Então 0,5 tá ok. Aí, o outro 0,5, para cinco horas da tarde aqui (em código, diz que metade já foi paga e outra metade será paga às cinco da tarde em São Paulo). Vocês têm que fazer a parte toda de vocês aí.
Luiz Antônio Vedoin - Mas quanto que é?
Valdebran - É um, não é?
Luiz Antônio Vedoin - Não!
Valdebran - Ô, meu jovem...
Luiz Antônio Vedoin - Ah, entendi.”
(Conversa de Valdebran Padilha com Luiz Antônio Vedoin, havida dia 14/09, às 14:50 - Veja deesta semana nas bancas)
Se um milhão era para o dossiê - que estranhamente quem dita o preço é Valdebran - ainda está faltando 700 mil...para quê, afinal?
Lembro, nesse instante, de uma das pessoas mais extraordinárias que conheço, em tom shakespiriano, ‘palavras, palavras, palavras...há algo de podre no reino da Dinamarca’. Meu pai, Leonardo, que estando com Ramis, mande-lhe um abraço.
Qual a proposta ou o propósito da visita de Valdebran aos Vedoin, na Polinter, antes dos depoimentos na Justiça Federal?
“ô, meu jovem...”, não saí da cabeça.
Este é o primeiro capítulo, por hoje é só.
Ao fundo, Callas já está na faixa “Madama Butterfly”, cantando... “que será?....que será?...que dirá?...que dirá?”.
Editado por Adriana às 9/25/2006 04:12:00 PM |
|