Carta de jovem estudante universitário brasileiro em Ancona - Itália
Por Daniel Hofmann 24/09/06
Confesso a todos que ao saber da possibilidade de morar durante um ano na Itália, eu fiquei muito empolgado. Afinal de contas meu grande sonho sempre foi antes conhecer a Europa e depois outros lugares no mundo. Cinco meses após receber a notícia, aqui estou, convivendo com os problemas do cotidiano na Europa. Um problema que eu realmente não esperava encontrar é o de achar uma casa para morar. Essa xenofobia anconiana tem sido o maior motivo de minhas preocupações no ultimo mês. Eu não esperava que em pleno 2006, na Europa, eu iria encontrar um tipo tão idiota de preconceito. Muitas pessoas me falaram que essa não é uma característica da Itália, mas sim de Ancona. Com um pouco de persistência e curiosidade eu decidi pesquisar a respeito de Ancona, e descobri o que se esconde em seu passado negro. O que muitas pessoas não sabem é que milhares de pessoas perderam suas vidas devido jeito anconiano de ser.
Em 1907 um navio atraca no porto de Ancona e de dentro dele desce um simples trabalhador georgiano chamado Josef. Josef vem a Ancona em busca de uma vida correta e feliz de trabalho porém o que ele encontra é uma cidade fechada a estrangeiros, mesmo que eles sejam pessoas corretas e em busca de uma vida direita de trabalho. Josef procurou emprego e um lugar para morar, mas o máximo que conseguiu foi "portas na cara" e um emprego de porteiro em um hotel no centro de Ancona. A vida não era nada fácil para Josef. Por onde ele andava todos o tratavam como lixo, apenas por ser estrangeiro. No seu trabalho no hotel a situação não era diferente, seu chefe dizia que Josef deveria ser capacho e não porteiro. Afinal de contas as pessoas não mereciam ser recebidas por um estrangeiro. Cansado de tanta dificuldade e preconceito Josef decide deixar Ancona em busca de uma vida mais digna. Aquele tempo que passou em Ancona colocou muito ódio em seu coração, ele estava magoado e sentido. Precisava deixar Ancona o mais rápido possível. Então, nunca mais se ouviu falar de Josef Djougatchvili. Alguns anos mais tarde o mundo todo conheceu o ditador Stalin que governou a ex-URSS com métodos brutais, desconhecidos mesmo para os padrões da história russa. "No começo dos anos trinta, ele foi entrevistado pelo conhecido autor de biografias, o alemão Emil Ludwig, num momento em que o seu regime ainda não havia demonstrado do que era capaz. Ao invés de se apresentar como um líder arrogante, como Mussolini ou Hitler, o entrevistador deparou-se com um homem simples, de aparência modesta, quase tímida, que se apresentou como um mero discípulo de Lenin. Os acontecimentos posteriores mostraram, porém, que aquele modo de ser comum, quase banal, não impediu Stalin de tornar-se um homem implacável, verdadeiro dono do destino do seu povo. " É voz corrente que os assassinatos que Stalin cometeu superam o holocausto de Hitler. Mas por que tanto ódio ? Por que esse desrespeito com a vida humana ? Stalin, é claro, era o porteiro estrangeiro Josef Djougatchvili. Uma pessoa simples querendo apenas uma vida correta. Porém sua estadia em Ancona despertou o pior dentro dele, tudo isso graças ao jeito anconiano de ser. O que será de mim depois desse 1 ano ? Seriamente preocupado.
Editado por Adriana às 9/25/2006 10:10:00 AM |
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