Por Josias de Souza na Folha de São Paulo Em depoimentos que se prolongaram até o início da madrugada de sábado, três dos principais envolvidos no escândalo da compra do dossiê antitucanato desfiaram diante do delegado Diógenes Curado Filho e do procurador Mário Lúcio Avelar versões tão homogêneas quanto inverossímeis. A homogeneidade está presente nos trechos dos depoimentos em que todos admitem o empenho para obter o dossiê da família Vedoin contra José Serra e Geraldo Alckmin. A inverossimilhança salta dos fragmentos em que os três negam ter tratado de dinheiro com Luiz Antonio Vedoin, sócio da Planam, a empresa que comandava a venda de ambulâncias superfaturadas.
Foram interrogados Jorge Lorenzetti, Oswaldo Bargas e Expedito Veloso. Os três têm algo em comum: trabalhavam no birô de “inteligência” do comitê de campanha de Lula. Dois deles – Lorenzetti e Bargas — estão vinculados por uma outra contingência: ambos são amigos do presidente da República. Inquirido, Lorenzetti reconheceu que chefiava o setor de inteligência do comitê de Lula. Diretor licenciado do Banco do Estado de Santa Catarina, um cargo que obteve por interferência direta do presidente, ele é o churrasqueiro informal da Granja do Torto. Contou que soube da existência do dossiê da família Vedoin por meio do empreiteiro e lobista Valdebran Padilha, filiado ao PT de Mato Grosso desde 2004. Enxergou no material uma valiosa munição de campanha contra o tucanato. E mobilizou a equipe de arapongas do comitê de Lula para obter o dossiê. Empenhou-se para injetar nos autos do inquérito policial a versão de que o presidente do PT, Ricardo Berzoini; um ex-assessor especial do gabinete de Lula, Freud Godoy; e o presidente da República não sabiam da transação. De resto, se disse “chocado” com a apreensão de R$ 1,7 milhão feita pela Polícia Federal. Pela versão de Lorenzetti, caberia a Gedimar Passos, preso pela Polícia Federal em 15 de setembro, explicar a origem do dinheiro. Curiosamente, Gedimar é o elo mais frágil da cadeia hierárquica do birô de espionagem petista. Em depoimento que prestou logo depois de ser preso com RS 1,7 milhão, ele informou à PF que cumpria uma missão da “Executiva Nacional do PT”. E disse que a ordem para a compra do dossiê lhe foi repassada por Freud Godoy, segurança de Lula há 17 anos. Outro interrogado, Oswaldo Bargas, admitiu que é amigo de Lula desde os tempos em que o hoje presidente nem usava barba. Conheceu-o na militância sindical de São Bernardo, nos anos 80. Reconheceu ter tentado negociar a publicação do dossiê pela revista Época. Insistiu em afastar o escândalo da cúpula do PT e do terceiro andar do Planalto. Ecoando Lorenzetti, negou que Berzoini, Freud e Lula soubessem da transação envolvendo o dossiê. E quanto ao dinheiro? Só assombro e estupefação. De novo, a bolada de R$ 1,7 milhão foi acomodada exclusivamente no colo do bagrinho Gedimar Passos. Os depoentes não queriam dissociar o escândalo apenas do Planalto. Desejavam distanciar a encrenca também de Brasília. Venderam ao delegado Diógenes Filho e ao procurador Mário Lúcio a tese de que a obtenção do dossiê não serviria aos interesses da campanha nacional de Lula. Seria usado exclusivamente em São Paulo, onde o petista Aloizio Mercadante padece com o favoritismo do tucano José Serra.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/25/2006 01:06:00 AM |
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