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NO PAÍS DE DE GUALLE
Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa
Quando a gente pensa que nada de pior pode acontecer, que o Brasil do PT chegou ao fundo do poço em matéria de corrupção e falta de ética, eis que novos escândalos explodem no coração do poder, ou seja, no Palácio do Planalto. Um tal Freud Godoy, funcionário do gabinete da Presidência da República, da noite para o dia apresenta sua demissão "a pedido".
Só que não foi a pedido dele, mas por determinação do próprio Lula, num telefonema direto, na manhã de segunda-feira. O presidente quis saber da veracidade das acusações de que o nosso Freud tropical havia sido o intermediário entre a Executiva Nacional do PT e dois laranjas, Godimar Pereira Passo e Valdebram Padilha, este também filiado ao PT.
Do outro lado do muro, a quadrilha da família Vendoin, disposta a vender vídeos e fotos de José Serra e de Geraldo Alckmin, juntos, em 2001, entregando ambulâncias superfaturadas a prefeituras do interior paulista. Nas imagens apareciam, também, deputados hoje implicados no escândalo dos sanguessugas.
Festival de lambanças e de mentiras
Os Vedoin pediram R$ 20 milhões pelo dossiê completo. Acertaram por R$ 2 milhões, dos quais R$ 1,7 chegaram aos laranjas, provavelmente levados pelo Freud e oriundos dos cofres do PT e adjacências. O restante para completar os R$ 2 milhões ficaria por conta de uma revista semanal interessada no furo de reportagem.
Acresce Freud Godoy ter sido coordenador de segurança das quatro campanhas presidenciais do presidente Lula, por isso nomeado para o gabinete presidencial, no Planalto. Sua mulher é dona de uma empresa especializada em segurança, que presta serviços ao PT. Ele mesmo integra a direção nacional do partido.
É preciso mais? Claro que se torna imprescindível a Polícia Federal descer aos meandros da operação, identificar a ação de cada um dos participantes e, em especial, a origem do dinheiro. Teriam voltado a agir Delúbios e Valérios ou serão alunos deles a demonstrar a mesma capacidade dos mestres?
De qualquer forma, repete-se o festival de lambanças e de mentiras. O presidente Lula não sabia de nada, e provavelmente não sabia mesmo, daí seu telefonema pessoal, irritadíssimo, ao já agora ex-assessor. Quem sabia, então? Ninguém? Foi uma compra, aliás, inócua, promovida por espíritos do além?
Haveria que seguir o dinheiro se estivéssemos num país sério, gerido por um governo sério. O "Folow the money" aconselhado pelo Garganta Profunda a dois repórteres do "Washington Post" deu certo por lá, acima da linha do equador. Aqui, provavelmente não.
Seguindo adiante com a pantomima
O que faz essa história deixar de ser de horror para tornar-se cômica é que nada acontecerá. Nem o presidente Lula deixará de ser reeleito, nem José Serra perderá votos. Geraldo Alckmin já estava derrotado, derrotado continuará. As investigações terminarão com o indiciamento dos três subalternos conhecidos, claro que sem correrem o risco de parar na cadeia, como não correram Delúbios e Valérios. Por essas e outras continuamos a ser o país definido por De Gaulle.
A imprensa vem cobrindo como devia mais essa trapalhada, mas se alguém imagina as informações alterando concepções, engana-se. As multidões empenhadas em reeleger o presidente Lula nem se tocam. Talvez estejam certas, definindo-se por alguém saído de seu próprio meio, não obstante os escândalos que sempre aconteceram do outro lado e agora passaram para a outrora banda boa da política. "É tudo a mesma coisa" diz o pobre, prestes a votar no Lula. "O Serra não sabia de nada", retruca o rico disposto a eleger o ex-prefeito como governador.
Assim caminhamos, mas até onde? Não adianta comparar situações. Nos idos de 1964 acabou deposto um governo que também não sabia de nada, sem que se esboçasse a menor reação de seus partidários. Mas o instrumento responsável pela queda, no caso, as Forças Armadas, disponha de um motivo específico: João Goulart estava mexendo com elas, estimulando a quebra da disciplina e da hierarquia nos quartéis.
Não foi difícil misturar as peças e concluir que a nação inteira clamava pela deposição de João Goulart. Não foi assim, ainda que as versões até hoje se atropelem.
Só não dá é para imaginar que a corrupção derrube alguém, tanto faz se conhecendo ou não os seus meandros. Enquanto o presidente Lula eleger-se com os pobres e continuar governando para os ricos, será seguir adiante na pantomima.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/19/2006 01:31:00 AM      |